Adolescência: da Cena Familiar à Cena Social

Abstract

Este trabalho tem por objetivo problematizar a relação entre adolescência e estrutura, discutindo as possibilidades de que um acontecimento na adolescência modifique a constituição subjetiva do jovem. Aborda a questão a partir de reflexões sobre as operações subjetivas e sociais necessárias à passagem da cena familiar à cena social, trabalhando, mais especificamente, a relação identificação, ato e inserção no grupo social. Desta forma, aponta o encontro problemático entre os processos subjetivos dos adolescentes e de certos atos ditos delinqüentes em uma sociedade ancorada no neoliberalismo.

Entre a casa e a rua: a percepção de adolescentes em situação de rua sobre o seu cotidiano

“…Trata-se de situações originadas do lugar social que essas pessoas ocupam, fugindo da sua esfera de influência e controle, de modo que seus membros se sentem além de desorientados, sobretudo desprovidos de suporte mínimo material e simbólico necessário para construção de boas referências familiares 24 . Assim, deve-se relativizar a ideia de abandono por parte das famílias desses adolescentes, uma vez que alternativas de acompanhamento do desenvolvimento de seus filhos possivelmente foram buscadas, restando investigar no seu contexto familiar mais extenso, os fatores que romperam essa expectativa e puseram em andamento um processo expulsivo 7 .…”

Adolescência(s) e juventude(s): considerações a partir de uma coexistência legal (Adolescence and youth: considerations from a legal coexistence)

“…Para além das práticas sociais e processos educativos transmitidos na cena familiar, vale destacar que, secundariamente, através das vivências comunitárias, e em tantos outros espaços de socialização, apresentam-se novas e velhas formas de ser e viver a cultura dominante (ROSA, 2002). Entre esses ambientes, pode-se destacar o sistema escolar de ensino, cujas concepções de educação apontam para perspectivas não críticas, de propagação dos interesses da burguesia (SAVIANI, 2010).…”

“…A quantidade de exigências faz com que as pessoas tenham cada vez menos tempo, enquanto buscam atingir níveis de sucesso e realização que são forjadas pela ideologia neoliberal e pela indústria cultural, que valorizam a dita "qualidade total", em detrimento da qualidade social (ROSA, 2002).…”

“…Tantas e complexas exigências confundem e sobrecarregam os adolescentes, como sujeitos que por um lado estão perdendo a ingenuidade e que são forçados cada vez mais a perder também a sensibilidade do brincar, do ser infantil, da inocência, mas que por outro lado também não possuem o tempo de maturidade suficiente para minimizar as angústias do viver diante de tantas situações contraditórias, responsabilidades, padrões, preconceitos, corrupções, inseguranças, carências socioculturais e afetivas (ROSA, 2002).…”

Não adesão ao tratamento: efeitos para a equipe e efeito da equipe

“…Nesse âmbito, o adulto seria entendido como ideal de completude a ser alcançado (Calligaris, 2000;Coimbra, Bocco & Nascimento, 2005;Endo, 2007;Ramírez, 2007). Rosa (2002a) reflete sobre isto ao apontar que adolescência é um termo utilizado em contraponto à condição da criança inocente ou à do adulto caracterizado pelo ideal de maturidade e equilíbrio. Assim, possui um sentindo de passagem que reafirma ou põe a constituição subjetiva à prova e aponta para o momento de sua conclusão.…”