Se antes algumas substâncias existiam como meio de contato com divindades por meio de membros autorizados em determinados grupos, inauguram-se na modernidade novas formas de uso que fazem dessas substâncias as conhecidas "drogas", e com elas advém o sujeito toxicômano. Esse sujeito, sendo produto e efeito de políticas econômicas vigentes, incita tentativas sociais de controle que denunciam a falta de saber lidar com a questão. Já sendo difícil pensar nessa condição, quando se considera subgrupos como os de mulheres, a questão torna-se ainda mais problemática. Entre 2000 e 2014 ocorreu um aumento de 567,4% do encarceramento feminino, com alta representatividade de crimes relacionados a drogas. Atentando-se a esses fenômenos e à transferência com a psicanálise, propomos este trabalho a partir da experiência da pesquisadora com um grupo de mulheres em um CAPS AD. Procurouse, com o método psicanalítico, escutar o que essas mulheres teriam a dizer sobre seus processos de constituição enquanto particularmente atavessadas pela toxicomania. Utilizou-se para análise os registros de 15 sessões em grupo, com participação média de 4 a 13 mulheres entre novembro de 2017 e fevereiro de 2018, desembocando nos seguintes eixos analisadores: o que é ser mulher; relação com suas mães; a relação com o pai; parceiros amorosos; e relação com a droga. Percebeu-se o estabelecimento de devastadoras parcerias perpassadas por violência e solidão. Refletiu-se assim sobre o lugar do objeto tóxico na vida das participantes e o quanto a toxicomania pode se aproximar de um semblante de existência para algumas delas.