Erotismo versus masoquismo na teoria freudiana

Abstract

Neste artigo, pretendemos aproximar a problemática do masoquismo na psicanálise da experiência erótica. A partir do texto de Freud "O problema econômico do masoquismo" (1924), buscaremos diferenciar dois modos distintos de abordagem teórica desta noção. De um lado, situamos um masoquismo mortífero, fruto da submissão ao outro e da culpabilidade, que pode ser definido por meio dos masoquismos feminino e moral. De outro lado, uma outra experiência do masoquismo pode ser vislumbrada com o conceito de masoquismo erógeno, o qual podemos aproximar do erotismo. Este modo de masoquismo é desenvolvido a partir da perspectiva da mescla pulsional, sendo o remanescente do momento do encontro originário entre Eros e pulsão de morte. É condição de possibilidade dos outros dois masoquismos, mas situa-se em um nível estrutural teórico diferente daqueles. Neste sentido, o masoquismo erógeno aponta para um modo de prazer que não se dirige pelo princípio do prazer, mas por um prazer que, por poder existir simultaneamente à dor, é uma experiência de intensidade e de potência eruptiva.

Estudo Sobre a Dor: Uma Leitura Do Discurso Freudiano Centrada No Pensamento De Birman

“…Portanto, questionar a função exercida pelo princípio de prazer requer repensar a relação do sujeito com a dor e com o sofrimento, ressaltando que está em jogo uma conotação de preservação da vida e de defesa contra o desamparo associados à submissão ao outro (FORTES, 2007).…”

“…Questionamos, então, se poderíamos pensar num modo de prazer que não é regulado por um princípio. Podemos dizer, segundo Fortes, que se trata de um prazer com uma potência eruptiva, uma experiência que conduz a uma abertura à excitação e não como evitação da excitação, em última instância, diríamos se tratar de uma experiência de prazer que consente a presença da dor (FORTES, 2007). Logo, entendemos o masoquismo como uma posição de vulnerabilidade ao consentir a presença simultânea de prazer e de dor, "abrindo a possibilidade de uma relação ao prazer que se inscreve como uma brecha na hegemonia do princípio de prazer, dessa regulação que funciona de forma unicamente defensiva frente a qualquer perturbação" (Ibidem).…”

“…O masoquismo erógeno coloca em cena a dimensão de dor que se articula com a emergência do desejo, uma vez que o desejo encontra condições de possibilidade na ruptura com o registro fálico, ruptura essa que não se efetiva sem consequências, ela implica a presença da dor (FORTES, 2007). Se pensado nesse aspecto, o masoquismo erógeno se constitui como estruturante do sujeito (FREUD, 1924b(FREUD, /1996.…”

“…Tal afirmação nos permite pensar que a necessidade de punição estaria em função da pulsão de morte (RUDGE, 2006), gerando prazer no 'sofrimento pelo sofrimento', mas por outro lado, em virtude da ligação com os componentes eróticos provoca uma satisfação libidinal. Baseados nisso, ressaltamos a relevância do masoquismo e da economia da dor na regulação dos processos psíquicos e vitais do sujeito (FORTES, 2007).…”

“…Diante do que foi explanado, o masoquismo originário se configura como o fruto do excesso e da força pulsional, constituindo-se como o efeito da angústia real num registro subjetivo no qual o desamparo se encorpa e incorpora (BIRMAN, 1999b Por outro lado, poderíamos pensar a dor como uma maneira de se sentir um corpo, afirmação essa que implicaria uma busca pela erogeneização, indicando que algum avanço, relativo ao atravessamento do desamparo, constituiu-se (FORTES, 2007).…”