Este estudo tem por objetivo desvelar a natureza da crise sistêmica do capitalismo e suas reverberações no âmbito do Estado Democrático de Direito. Para tanto, buscar-se-á, de início, demonstrar que a origem da chamada crise dos anos 2000 é manifestação de outra cujas origens remontam à ruína do padrão de acumulação do capital estabelecido no segundo pós-guerra. Esclarecidos os fatores que caracterizam a quadra histórica iniciada nos anos 1970 e as bases da doutrina neoliberal, dá-se lugar à análise dos impactos da primazia da racionalidade privada sobre o Estado e sobre a própria democracia. À luz das contribuições de Christian Laval e Pierre Dardot (2016), argumentar-se-á que, mais do que uma política econômica, o neoliberalismo se apresenta como uma nova racionalidade, capaz de estruturar condutas e subjetividades. Nesse sentido, este estudo buscará elucidar em que medida este paradigma neoliberal afeta a racionalidade do Estado à medida em que implica uma inflexão na construção da própria identidade deste. Para tanto, será realizada uma sobreposição entre o Construtivismo de Alexander Wendt (1992) e de Nicholas Onuf (1998), referencial teórico este que subsidiará o estudo de caso dos EUA dos anos 1970 e dos anos de governo Trump. Ao fim desses esforços, espera-se demonstrar, e ilustrar, como o neoliberalismo prevê uma nova identidade estatal que não é mais informada pelos clássicos valores democráticos.