OBrasil é um país cujos cientistas sociais tendem a olhar como se fosse exclusivo, como se houvesse uma demanda de conhecimento de sua realidade que se pusesse acima de tudo e mesmo excluísse, na prática, que o pensamento social se ocupasse de outras dimensões e de outras paragens. O estudo social da realidade entre nós tem padecido bastante deste viés "nacionalista metodológico". Não se trata de tara nossa apenas, mas, sim, de problema que acomete os países periféricos de modo bastante geral: sua situação não-central parece levar sua intelectualidade a ocupar-se de sua especificidade (contrastada de algum modo com o Ocidente) e a uma recusa a enfrentar temas mais gerais ou universais -caso em que é farta a América Latina, para ficar somente em nosso subcontinente (cf. Zea, 1976). Aliado ao tamanho do país, esse viés particularista faz com que, afinal de contas, o que parece interessar realmente seja a nossa "civilização brasileira". As teorias são assim, de modo geral, importadas como se compra pacotes de inovação tecnológica que nos mantêm na dependência das grandes empresas internacionais. Afinal, por que gastar tempo e intelecto com coisas que fogem à nossa esfera de possibilidades efetivas? Para que organizar um debate que tenha como foco essas questões e desenvolvê-las de maneira relativamente independente entre nós?