Trabalho rural e saúde: intoxicações por agrotóxicos no município de Teresópolis - RJ

Abstract

Este estudo procura avaliar as características do trabalho rural no município de Teresópolis, procurando encontrar associações entre variáveis que indicam o uso indevido de agrotóxicos e a intoxicação por esse tipo de produto entre aplicadores de agrotóxicos. Adicionalmente, pretende-se criar subsídios à discussão das práticas de regulação ao uso desses produtos. Os dados foram obtidos de uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que aplicou, em Teresópolis - RJ, questionários que contemplavam variáveis de características pessoais, do estabelecimento, do uso de agrotóxicos e de intoxicação por esses produtos. Através de análise exploratória dos dados e de uma regressão logística foi possível encontrar fatores de risco e de proteção relacionados à saúde dos trabalhadores, no que diz respeito à intoxicação por uso de agrotóxicos. Tal fato aponta para urgentes compromissos no sentido de criar políticas de regulação capazes de reduzir essas características de risco, bem como de ampliar os fatores de proteção à saúde dos trabalhadores rurais.<br>In this article, we analyze the characteristics of rural work in Teresópolis, focusing on the associations between pesticides use indicators. We intend to subsidize discussions about the legislation on pesticide use. Data includes personal and farms characteristics, pesticides and intoxication variables collected through questionnaires applied in an IBGE research conducted in Teresópolis municipality - RJ. Through exploratory data analysis and logistical regression, it was possible to find risk and protection factors related to pesticide intoxication. The paper highlights the need to create regulatory policies, to minimize risk and maximize protection factors related with rural workers health

Vulnerabilidades de trabalhadores rurais frente ao uso de agrotóxicos na produção de hortaliças em região do Nordeste do Brasil

“…No Brasil, a "Revolução Verde" principia-se na década de 1960 e adquire impulso em meados da década de 1970 com a criação do Programa Nacional de Defensivos Agrícolas (PNDA). O PNDA, dentre outras metas, visava estimular a produção e o consumo nacional de agrotóxicos na medida em que condicionava a concessão do crédito rural à utilização obrigatória de uma parte deste recurso com a compra de agrotóxicos (ALVES FILHO, 2002;FREITAS;COUTINHO, 2005). Entretanto, as políticas de incentivo ao uso de agrotóxicos foram implantadas em um contexto de carências estruturais e de vulnerabilidades sociais, marcado pela pequena cobertura da seguridade social e pela baixa escolaridade dos trabalhadores rurais, que não foi acompanhada por processos de qualificação dos agricultores envolvidos na produção (MOREIRA et al, 2002;FREITAS;COUTINHO, 2005).…”

A produção científica sobre intoxicações por agrotóxicos na região serrana do Rio de Janeiro

“…Atendendo os requisitos propostos para este estudo, foram encontrados nove artigos (Peres, 2001;Moreira, 2002;Caldas, 2005;Peres, 2004;Levigard, 2004;Peres, 2005a;Soares, 2005;Peres, 2005b;Castro, 2005 A partir da Técnica de Análise de Conteúdo, foram identificadas as categorias "percepção do risco de intoxicação" e "fatores relacionados às intoxicações humanas e ambientais por agrotóxicos" como centrais e recorrentes, optando-se por apresentar a discussão dos estudos com base nestas categorias.…”

“…Vários estudos sobre a região serrana identificam o baixo nível educacional dos trabalhadores rurais como um fator agravante da intoxicação por agrotóxicos (Moreira, 2002;Soares, 2005;Peres, 2005b;Castro, 2005). A baixa escolaridade dificulta o entendimento das informações técnicas para aplicação dos agrotóxicos presentes nas bulas dos produtos (Sobreira, 2003).…”

“…Essa mesma realidade foi encontrada por Soares et al (2005) em estudo realizado na região de Teresópolis, em que os autores concluíram existir um aumento considerável da probabilidade de intoxicação para aqueles que não usam EPI e/ou não realizam corretamente a higiene pessoal e de seus equipamentos após à aplicação dos agrotóxicos. Segundo o estudo, trabalhadores que não trocam ou lavam as roupas após a última aplicação de agrotóxico têm risco aumentado em até 1.275 vezes.…”

“…Cabe destacar, no entanto, que o método utilizado neste estudo apresenta um limite de detecção muito superior ao recomendado pela legislação brasileira para águas de abastecimento doméstico e para irrigação (Moreira, 2002). Soares et al (2005) registraram que, para os agricultores da região, os principais riscos ambientais são a contaminação dos rios e a do solo. A preocupação com o rio pode, segundo os autores, no entanto, ter sido influenciada pela presença de técnicos da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) que realizavam, naquele momento, um outro estudo no local.…”