Desde a década de 1970, os moradores do bairro do Calabar, em Salvador (Bahia), começaram a se organizar politicamente, como forma de pressionar os órgãos públicos a reconhecerem a legalidade da ocupação e mobilizar intervenções para a melhoria da qualidade de vida na comunidade. Foi assim que surgiu o movimento Jovens Unidos do Calabar (JUC) e, posteriormente, a Associação de Moradores, desdobrando-se em uma série de outras organizações locais, como a Escola Aberta do Cabalar e a Biblioteca Comunitária do Calabar. Nesse sentido, o presente artigo buscou compreender, a partir das vivências de um grupo de moradores do bairro do Calabar, em Salvador (Bahia), os sentidos e significados implicados na luta política desta comunidade pela efetivação do direito à cidade e à cidadania em um contexto periférico. Para tanto, foi realizado um levantamento sobre o processo de favelização em Salvador e uma investigação empírica no bairro, entrevistando seis moradores da comunidade ligados à militância política local. Metodologicamente, optou-se pela revisão bibliográfica para levantamento das informações relativas à história e aos movimentos sociais ocorridos na comunidade; entrevista em profundidade com roteiro semiestruturado para coleta de dados empíricos; e análise de discurso (AD) como método de sistematização e interpretação dos resultados. Ao final, pôde-se evidenciar a importância da luta dos moradores do Calabar para um redimensionamento a propósito da noção estrita de cidadania, deslocando-a de uma compreensão estática, para uma concepção viva, enriquecida pelos movimentos contínuos, permanentes, de (re)apropriação territorial e reivindicação do direito à cidade.