As relativas que são fáceis na aquisição do português brasileiro

Abstract

O Panchico é aquele negócio que voa e que tem um bicho que pica. (T. 4;7)ABSTRACT: The acquisition of Portuguese by two Brazilian children (aged 2;0 5;0) is discussed in an attempt to describe and explain the first relative clauses produced in naturalistic, observational studies, according to the framework of generative syntax theory. The results show that at around 3;0: a) the child starts to deal with relative clauses as modifiers of N; b) cleft sentences appear before relative clauses, and c) the first relatives confirm the prevalence of the vernacular strategy of relativization in Brazilian Portuguese identified by other studies based on adult data. KEY-WORDS: relative clauses, acquisition, first language, Brazilian Portuguese. RESUMO:A aquisição das orações relativas por duas crianças brasileiras (entre os 2;0 e os 5;0 de idade) aprendendo o Português Brasileiro como primeira língua é discutida, com o objetivo de descrever e explicar as primeiras relativas produzidas pelos sujeitos de estudos naturalistas, observacionais, à luz da teoria da sintaxe gerativa. Os resultados mostram que ao redor dos 3;0: a) a criança começa a construir as relativas como modificadoras do N; b) as clivadas antecedem a aquisição das relativas, e c) as primeiras relativas ilustram a estratégia vernacular de relativização do Português Brasileiro já identificada por outros estudos com dados de adultos. PALAVRAS-CHAVE: orações relativas, aquisição, primeira língua, Português Brasileiro.

O Português Afro-Brasileiro

“…Vários estudos têm apontado a quase ausência da estratégia resuntiva no que diz respeito ao PB, quer na fala de adultos, quer em dados de aquisição (TARALLO, 1993a(TARALLO, , 1993bCORRÊA, 1998;PERRONI, 2001;BAGNO, 2001;BURGOS, 2003, dentre outros). Também no PE contemporâneo, esta não é a estratégia mais em uso, como mostram os resultados quantitativos apresentados na Tabela 2.…”

A interpretação de orações relativas ambíguas no Português Brasileiro Infantil: um estudo experimental

“…No PB, além dos estudos envolvendo compreensão de relativas mencionados acima, para os quais se utilizaram métodos experimentais, outros estudos (PERRONI, 1997(PERRONI, , 2001GROLLA, 2000) se interessaram pela aquisição dessas e de outras construções envolvendo a periferia esquerda da sentençacomo perguntas-QU, clivadas e construções de tópicocomentárioe, para investigá-las, utilizaram dados de produção espontânea obtidos por meio da observação de uma ou mais crianças em um dado período de tempo (o que é conhecido como método longitudinal). Analisando a produção de relativas, e não mais a compreensão, esses estudos sugerem, assim como os anteriores, que a criança possua um conhecimento gramatical complexo desde cedo e uma facilidade maior com certos tipos de relativa, que são encontradas nos dados primeiro do que outras.…”

“…Por exemplo, além da relativa de sujeito ter aparecido primeiro nos dados, a relativa de objeto indireto foi observada após a de objeto direto. Com relação às relativas derivadas via estratégia resumptivaas quais seriam nãopadrão, nos termos de Tarallo (1983), como vimos nas seções 3.2.2 e 3.2.3 -, Perroni (2001) aponta que construções desse tipo foram pouco encontradas nos dados. Para a autora, a presença de um pronome resumptivo em dados de aquisição se justificaria pela necessidade de mitigar esforço de processamento, já que ela considera uma análise na qual esse pronome seja gerado na base, não sofrendo movimento (como na representação exposta na Figura 11, acima).…”

“…Diante dessas considerações, é possível dizer que os dados de N. e T., analisados em Perroni (1997Perroni ( , 2001) e Grolla (2000), confirmam a hierarquia de acessibilidade de Keenam e Comrie (1977), de acordo com a qual as posições sintáticas mais altas são as mais acessíveis à relativização e seguem a ordem expressa abaixo:…”

“…Fornecemos um panorama desse processo apresentando estudos experimentais que sugeriram uma dificuldade maior das crianças em alguns tipos de relativa (SLOBIN, 1973;SHELDON, 1974;TAVAKOLIAN, 1981, DE VILLIERS et al, 1979IHA, 1979;HAMBURGUER;CRAIN, 1982;. Também trouxemos dados de estudos longitudinais do PB (PERRONI, 1997(PERRONI, , 2001GROLLA, 2000), os quais observaram que, de fato, a relativização em algumas posições ocorre mais tarde em dados infantis. BEVER, 1970;FERREIRA, 2003;STAUB, 2010;TRAXLER, MORRIS, SEELY, 2002).…”