O pós-abolição e suas dinâmicas de sociabilidade: lógicas familiares e relações interpessoais no oeste paulista cafeeiro

Abstract

Tomando como foco o município de São Carlos, um dos principais centros da economia cafeeira do oeste paulista durante a virada do século XIX para o XX, o artigo analisa as tensões presentes nas relações interpessoais tecidas entre negros, de um lado, e fazendeiros e pequenos proprietários rurais, de outro. Por meio da leitura de dois inquéritos policiais da época, percebeu-se que essas relações eram mediadas por determinados códigos morais, os quais, por sua vez, delimitavam certas normas de sociabilidade. Quando alguns destes códigos eram quebrados, as situações de conflito se potencializavam. Pode-se afirmar que, se a proximidade com pessoas de posse ainda era, para a população negra do pós-abolição, uma das principais fontes para obtenção de recursos materiais e simbólicos, as relações de poder inscritas nesses vínculos não deixavam de produzir contestações quanto às identificações e hierarquias encerradas no âmbito familiar. De modo geral, acredita-se que as disputas de poder presentes nessas interações podem estar relacionadas à renegociação, trazida pelo fim do escravismo, de determinadas formas de distinção social.Palavras-chave: Família escrava. Pós-abolição. Hierarquias familiares. Sociabilidades. Economia cafeeira. Interior paulista.* O presente trabalho foi desenvolvido com auxílio da Fapesp, que outorgou bolsa de doutorado ao primeiro autor e também apoiou o projeto temático "Observatório das Migrações em São Paulo -fases e faces do fenômeno migratório", coordenado por Rosana Baeninger. Agradecemos à Fundação Pró-Memória de São Carlos e a seus funcionários pelo acesso aos processos criminais aqui utilizados. Somos também gratos a Barbara Weinstein e Karl Monsma pelos comentários oferecidos por ocasião da apresentação de versão anterior deste trabalho no 36th Annual Meeting of the Social Science History Association, em Boston, ocorrido em 2011.