RESUMO: Apesar dos grandes avanços obtidos pelos estudos utilizando técnicas de biologia molecular diversas controvérsias persistem a respeito do mecanismo de carcinogênese colorretal. Ao longo do último ano, entretanto, observamos na literatura o surgimento de um novo conceito referente à existência de um conjunto de células situadas nas bases das criptas intestinais, as quais apresentam características bastante distintas do restante das células epiteliais. Estas células, denominadas como células tronco intestinais, apresentam-se de forma indiferenciada e com um ciclo de vida com duração superior a um ano. Desta forma, justifica-se assim nestas células a possibilidade da ocorrência de um acúmulo de mutações, etapa considerada essencial para o desenvolvimento do processo neoplásico, e que seria improvável de ocorrer em um colonócito normal, cujo ciclo de vida dura em média cinco dias. Outra importante evidência da participação destas células tronco no mecanismo de carcinogênese foi demonstrada por estudos capazes de reproduzir a formação de tecidos neoplásicos com a mesma característica do tumor original, a partir do implante de um reduzido número destas células em modelos experimentais, o que não se obtém através do implante de um grande número de células tumorais normais. Sabendo-se que a presença de uma mutação do gene APC é uma etapa precoce no processo de carcinogênese colorretal, acredita-se que esta exerça este papel contribuindo para a ocorrência de uma superpopulação de células tronco intestinais, levando a um desequilíbrio proliferativo na mucosa intestinal.
Descritores
Trabalho realizado no Laboratório de Biologia Molecular e Disciplina de Clínica Cirúrgica do Departamento de Medicina da UNIVILLE, Joinville, SC e Departamento de Cirurgia do Hospital Municipal São José, Joinville, SC.Recebido em 17/11/2008 Aceito para publicação em 03/12/2008 Embora o grande número de estudos utilizando técnicas de biologia molecular realizados ao longo dos últimos quinze anos tenham representado um grande avanço no conhecimento do processo de carcinogênese colorretal, diversos conceitos permanecem desafiando nossa compreensão a respeito desta importante doença.A partir do trabalho original de Fearon e cols 1 , em 1990, tornou-se evidente que o surgimento de uma célula tumoral é resultante de um acúmulo de mutações em seu DNA capaz de alterá-la morfológica e funcionalmente, levando a um ganho proliferativo o qual irá subsequentemente levar ao surgimento de uma população de células com características semelhantes.Como evento inicial deste processo foi identificada a presença de uma mutação no gene codificador da proteína APC, assim denominada por ser a principal marca genotípica da polipose adenomatosa familiar. Posteriores estudos demonstraram que esta mutação apresenta-se também como evento inicial em cerca de 80% dos casos de câncer colorretal esporádico 2 .Em condições normais, o ciclo de vida cumprido pelo colonócito dura em torno de cinco dias 3 . Assim sendo, temos aqui a primeira controvérsia, pois tornase...