O gosto dominante como gosto tradicional: preferências e aversões estéticas das classes altas de São Paulo

Abstract

De modo geral, estudos sobre a elite brasileira contemporânea por um lado tendem a abordagens em termos das variáveis socioeconômicas que influenciam a mobilidade social, ocupacional e/ ou financeira 1 , e por outro acentuam aspectos ligados ao consumo visto de forma ampla 2 . Baseado em trinta entrevistas semidiretivas com membros das classes altas de São Paulo e em críticas culturais veiculadas pela imprensa paulistana contemporânea, este artigo discutirá algumas visões que banqueiros, colecionadores de arte, fazendeiros, rentiers, embaixadores, filantropos, grandes empresários, industriais, altos executivos, construtores etc. constroem de si mesmos e dos outros em suas preferências estéticas declaradas, as quais também contribuem para formar a "realidade" dessas elites. O gOstO dOminante cOmO gOstO tradiciOnal Carolina PuliciResumo Baseado em entrevistas semidiretivas com frações das classes altas de São Paulo e em críticas culturais veiculadas pela imprensa paulistana contemporânea, este artigo discute algumas visões que banqueiros, colecionadores de arte, embaixadores, fazendeiros, rentiers, filantropos, grandes empresá-rios, altos executivos, industriais etc. constroem de si mesmos e dos outros em suas preferências estéticas declaradas. A análise de seus juízos de gosto em matéria de arquitetura, cinema e artes plásticas aponta para o apego aos valores artísticos tradicionais.Palavras-chave: gosto; classes altas; tradicionalismo estético; São Paulo. AbstRActBased on semi-directive interviews with wealthy people groups of São Paulo and on cultural critics from this city' s contemporary press, this article discusses some visions that bankers, art collectors, ambassadors, farmers, rentiers, philanthropists, entrepreneurs, powerful businessmen, industrialists, etc. create of themselves and of the other groups through their manifest aesthetical preferences. The analysis of their preferences in architecture, cinema and paintings indicates a general lack of vanguard taste.

Segregação Racial em São Paulo: Residências, Redes Pessoais e Trajetórias Urbanas de Negros e Brancos no Século XXI

“…Muitas pesquisas sobre estratificação social têm enfocado as representações e práticas culturais de determinadas frações de classe média tendo em vista o espaço dos estilos de vida (Cf., p. ex., Pulici 2011Pulici , 2013. No nosso caso, pretendemos caracterizar No entanto, já há muito tempo estudos urbanos têm mostrado que a proximidade física não necessariamente implica em acesso, interações ou proximidade social (por exemplo, Chamboredon & Lemaire (1970), Guest (1985) ou Ribeiro (2008)).…”

Radar e Espelho das Elites

“…Mas além do que se poderia nomear como "culto às elites", o colunismo passou a desempenhar também outra função importante dentro dos jornais: o da defi-4 Sobre as práticas culturais e preferências estéticas de frações dominantes no Brasil, consultar Pulici (2011, 2015, 2020Pulici (2016). 5 Raquel Paiva e Muniz Sodré sintetizam o colunismo social do período nos seguintes termos:…”

O homem através do Instituto Oscar Freire: história e memória da medicina legal paulista (1902-1944)

“…O estilo neoclássico do prédio se integrava a um conjunto de valores estéticos ativados para endossar representações teatrais de autoridade científica, remetidas a Europa (Homem, 1996;Corrêa 1997). Recursos como as janelas em arco, as colunas gregas, os vitrais, os recortes retos dos monólitos de pedra, as escadarias e portões emblemados, as cores brancas, reforçavam uma racionalidade eurocêntrica de ver e de pensar o mundo dentro da arquitetura urbana, que se vinculava também a estética imaginada da antiguidade clássica (Pulici, 2011;Brinkmamn, 2017).…”

“…ojeriza diante dos corpos desviantes, enquanto paralelamente indicavam a "Escola de Oscar Freire" como apaziguadora desse desconforto, ao atribuir culpa aos outros e ao fomentar uma fraternidade de homens da ciência para compreensão do repulsivo, de afastamento racional para rasura da emoção, em nome do progresso (Todorov, 1982;Hartog, 1999;Chagas, 2006;Pulici, 2011). Apesar de toda sua significância pedagógica e identitária, o pequeno museu dos legistas paulistas no IOF não pode ser considerado extraordinário ou excepcional: instituições semelhantes difundiram-se ao redor do mundo entre o fim do século XIX e a primeira metade do século XX, e mesmo diante de evidentes particularidades regionais, é possível verificar nessas iniciativas semelhante mobilização dissensual aquela observada no IOF (Costa, 1997;Colombo, 2000;Becker & Wetzell, 2006;Rafter, 2016).…”