2006
DOI: 10.1590/s0101-33002006000300009
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Autobiografia e sujeito histórico indígena: considerações preliminares

Abstract: A autobiografia, gênero central na bibliografia escrita por ou sobre indígenas nos Estados Unidos, está ausente na bibliografia equivalente no Brasil. Este trabalho questiona as razões desse contraste, resumindo análises sobre a peculiaridade cultural do gênero autobiográfico -profundamente vinculado à formação do indivíduo ocidental -, sobre sua possível tradução ameríndia e sobre as formas pelas quais o sujeito histórico indígena tem sido construído no Brasil.PALAVRAS-CHAVE: autobiografia; etnologia; antropo… Show more

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“…Na obra A queda do céu: palavras de um xamã yanomami, no "Postscriptum: quando eu é um outro (e vice-versa)", Bruce Albert salienta que, entre outras formas de definição para explicar a relevância da voz de Davi Kopenawa, o "eu" narrador não aparece apenas como duplicado pelo efeito autobiográfico, mas também habitado por uma multiplicidade de vozes que constituem um verdadeiro mosaico narrativo: "em primeiro lugar, para além de suas reflexões e lembranças pessoais, suas palavras se referem constantemente aos valores e à história de seu povo, e nos são transmitidas enquanto tais" (Kopenawa e Albert, 2015, p. 539). Nesse ponto, identificamos dois aspectos da autobiografia dos povos indígenas, de acordo com a conceituação dada por Sáez (2006) e por Costa (2014): ela é produzida em nome do coletivo e entrecortada pelas histórias singulares; e é extrospectiva, pois a narrativa de si não narra o eu íntimo, mas o eu mítico-histórico. Albert argumenta, enfatizando que Nesse caso, o "eu" narrador é indissociável de um "nós" da tradição e da memória do grupo ao qual ele quer dar voz.…”
Section: A Especificidade Epistemológico-política Da Literatura Indígunclassified
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“…Na obra A queda do céu: palavras de um xamã yanomami, no "Postscriptum: quando eu é um outro (e vice-versa)", Bruce Albert salienta que, entre outras formas de definição para explicar a relevância da voz de Davi Kopenawa, o "eu" narrador não aparece apenas como duplicado pelo efeito autobiográfico, mas também habitado por uma multiplicidade de vozes que constituem um verdadeiro mosaico narrativo: "em primeiro lugar, para além de suas reflexões e lembranças pessoais, suas palavras se referem constantemente aos valores e à história de seu povo, e nos são transmitidas enquanto tais" (Kopenawa e Albert, 2015, p. 539). Nesse ponto, identificamos dois aspectos da autobiografia dos povos indígenas, de acordo com a conceituação dada por Sáez (2006) e por Costa (2014): ela é produzida em nome do coletivo e entrecortada pelas histórias singulares; e é extrospectiva, pois a narrativa de si não narra o eu íntimo, mas o eu mítico-histórico. Albert argumenta, enfatizando que Nesse caso, o "eu" narrador é indissociável de um "nós" da tradição e da memória do grupo ao qual ele quer dar voz.…”
Section: A Especificidade Epistemológico-política Da Literatura Indígunclassified
“…Ora, uma vez constatada a complexa relação dos conceitos, como a autobiografia indígena aqui explanada, dada a emergência da obra em uma forma que não se explicita claramente, Bruce Albert define em seus termos que a obra está escrita em primeira pessoa, a pessoa que, com vigor e inspiração, carrega a voz de Davi Kopenawa, o qual narra de modo inextricável seu eu mítico-histórico. Isto, segundo os autores Sáez (2006) Aqui, a autobiografia indígena é a união do singular e do plural, mas é também o reconhecimento de ambas. As pessoas, o singular "eu" e o plural "povo", não se destituem tal como geralmente as conhecemos.…”
Section: A Especificidade Epistemológico-política Da Literatura Indígunclassified
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“…), o que significa que a voz-práxis indígena pode se expressar de vários modos, encontrando nas publicações em geral um meio para propagar, explicitar e legitimar essa mesma voz-práxis. Com relação a isso, alguns teóricos, como Oscar Sáez (2006) e Suzane Lima Costa (2014aCosta ( , 2014b, aliados a indígenas que se mostram interessados no estudo e na paradigmatização de si mesmos, percebem a autobiografia indígena enquanto lugar privilegiado e condição de possibilidade para impulsionar sua produção e recepção, já que ela apresenta de modo direto e pungente o relato eu-nós, entre singular e plural, entre primeira pessoa do singular e terceira pessoa do plural (enquanto relação inextricável), em termos de autoconstituição e, ao mesmo tempo, como relato-experiência da violência e da gradativa tomada de consciência dela e de luta contra ela, o que explicita em cheio a carnalidade e a politicidade da voz-práxis indígena.…”
Section: O Exemplo Da Autobiografia Indígena Como Voz-práxis Dasunclassified
“…Essa intricada relação concebe o xamã yanomami e o norteia para além da vida na aldeia, isto é, o encaminha para a militância fora da sua comunidade, em âmbito internacional, de onde ele reforça sua voz-práxis para reivindicar direitos que foram suprimidos de seu povo, denunciando, portanto, as violações de direitos que sofrem e o processo de descaracterização a que são submetidos. A narrativa autobiográfica de Davi Kopenawa é um bom lugar de encontro, como argumenta Sáez (2006), entre a estrutura e a história, mas não de uma escrita etnográfica inserida dentro de um padrão biográfico, como se fosse uma descrição objetiva, neutra, imparcial e impessoal do outro via antropologia, e sim da diversidade que o próprio texto desnuda e na qual o sujeito se apresenta. Aqui, Davi Kopenawa é o sujeito de sua própria história e significante de sua própria condição, da voz-práxis própria que é, ao mesmo tempo, também de seu próprio povo.…”
Section: O Exemplo Da Autobiografia Indígena Como Voz-práxis Dasunclassified