A perspectiva sócio-histórica de Leontiev e a crítica à naturalização da formação do ser humano: a adolescência em questão

Abstract

RESUMO: A contribuição teórica de Leontiev convida-nos a superarmos a concepção naturalizante do ser humano no campo da psicologia. Esse avanço se torna possível se compreendermos o psiquismo humano como algo que se desenvolve por meio do processo de inserção do indivíduo na cultura e nas relações sociais. Este artigo se constitui numa análise crí-tica de publicações psicológicas sobre adolescência destinadas a pais e professores. Trabalhos que em psicologia focalizam o tema da adolescên-cia tendem a ser especialmente caracterizados pela adoção da abordagem naturalizante. As conseqüências sociais dessa perspectiva são tomadas como critério para a exigência da crítica à própria perspectiva.Palavras-chave: Naturalização. Adolescência. Leontiev. Psicologia só-cio-histórica. LEONTYEV'S SOCIAL-HISTORICAL PERSPECTIVE AND THE CRITICISM OF THE NATURALISTIC APPROACH TO HUMAN DEVELOPMENT WITH A FOCUS ON ADOLESCENCEABSTRACT: Leontyev's theoretical approach invites us to go beyond the naturalistic conception of the human being in the field of psychology. This progress is possible if we understand the human mind as something that develops through the insertion process of the individual into culture and the social relations. This paper is a critical analysis of psychological publications on adolescence directed to parents and teachers. Writings in psychology that focus on adolescence tend to be greatly influenced by the naturalistic approach. The social consequences of this tendency point to the need for a critique.

Adolescência(s) e juventude(s): considerações a partir de uma coexistência legal (Adolescence and youth: considerations from a legal coexistence)

“…Buscava-se compreender esses sujeitos de modo particular, dando destaque para o seu modo individual de pensar, agir, falar, reagir, produzir, se relacionar (DIAS, 2011;BOCK, 2004;LEONTIEV, 1978;ERIKSON, 1976;FERREIRA;FARIAS;SILVARES, 2010;HALL, 1925 Stanley Hall (1925), um dos primeiros psicólogos a tomar o tema da adolescência como prática científica, a partir dos resultados de suas pesquisas, aponta e compreende que o adolescente é tido como um sujeito de contestação, rebelde, emotivo, que busca a sua independência, liberdade, e por isso requer muita atenção e paciência dos familiares. Para ele, a adolescência era preponderantemente determinação biológica, mas o seu reconhecimento como etapa específica pela sociedade poderia fazer muita diferença na contenção criativa das crises típicas do período.…”

“…Sob essa perspectiva, no prisma da ciência, e com uma certa pretensão de "verdade absoluta", dada sobretudo a influência do positivismo no fazer científico nas ciências humanas e sociais, a adolescência foi caracterizada como uma fase própria de indivíduos instáveis, românticos, problemáticos, atrelados a determinadas mudanças no corpo (puberdade) e à idade (FERREIRA;FARIAS;SILVARES, 2010;BOCK, 2004;SANTOS, 2005).…”

“…Pode-se aferir que na ótica da psicologia tradicional, direta ou indiretamente, há uma efetiva negação da diversidade e dos fatores sócio-histórico que constituem a adolescência (BOCK, 2004;MOREIRA et al, 2008 Esse pensamento abre margem para naturalizar o que é social e histórico, como se fosse algo comum/normal, inclusive, a pobreza, o desemprego, os atos infracionais, responsabilizando única e exclusivamente os próprios adolescentes pela situação de opressão e exclusão vivida no mundo, as quais ocasionam violências e restrições de diferentes formas.…”

“…Muitos estudos apontam que há possibilidades de inserção social e desenvolvimento da adolescência, em sua diversidade, de maneira relativamente livre de estresse, de modo tranquilo (FERREIRA;FARIAS;SILVARES, 2010;GROSSMAN, 1998 Não há comportamento humano que tenha sido recebido por hereditariedade biológica, mas sim por vias de processos estritamente culturais. Assim, a adolescência compreendida pelas perspectivas e concepções naturalizantes da psicologia têm sido refutadas (BOCK, 2004;DIAS, 2011;LEONTIEV, 1978), sobretudo, pelos estudos da psicologia e antropologia social, da pedagogia e da sociologia, que dão ênfase aos processos sociais, educativos e culturais constitutivos da adolescência. A adolescência é uma resultante social, é criação histórica, não é estática, repercute na subjetividade das pessoas, não é predeterminação (LEONTIEV, 1978).…”

Saúde e adolescentes: possibilidades de violência simbólica

“…A compreensão das características psicológicas nesta abordagem emerge à medida que se compreende a evolução das projeções sociais sobre crianças e adolescentes. 4 Essas projeções constituem um conjunto de valores e representações, as quais Bourdieu chamou de arbitrário cultural, que irá ser reproduzido na relação entre adulto e adolescente ou profissional de saúde e usuário adolescente. Qualquer tipo de ação educativa, denominada de ação pedagógica, desenvolvida nessa relação, estará imbuída desse caráter reprodutivista.…”