A pesquisa que venho realizando sobre o pensamento de Antoine Berman pode ser compreendida como um esforço de retradução da reflexão desse autor, realizada em textos cuja ordem de publicação não segue a cronologia em que os mesmos foram escritos, o que, como afirma Isabelle Berman (2008, p. 06), instaura um outro tempo nessa obra. Contudo, tanto para a releitura desses textos quanto para uma compreensão do conceito Bermani--ano de retradução, que é o mote sobre o qual pretendo me debruçar aqui, não é só para esse tempo outro que devemos dar atenção especial, é preciso também ter em mente o movimento que sustenta todas as reflexões do au--tor e que se apresenta de modo mais marcante na composição do seu con--ceito de retradução. Movimento este que começou a germinar nas reflexões expostas pelo Idealismo alemão, depois foi reelaborado pelos românticos de Iena e segue até hoje contornando reflexões de pensadores de várias áreas das ciências humanas, como é o caso da reflexão de Antoine Berman, que faz, como todas as outras, uma releitura própria desse movimento, apropriando---se principalmente das leituras, bem como das traduções, que faz de textos de Friedrich Schlegel e de Novalis.Marcio Suzuki (1998), em sua tese de doutorado, texto interessado centralmente no pensamento de Schlegel, nos faz notar que esse movimen--to surge da percepção filosófica (aqui Schlegel estaria lendo especialmente o idealista Schelling) de que era necessário "eliminar o dualismo de espírito e matéria" (p.109). Schlegel também não perde de vista o ideal da Doutrina--da---ciência (de Fichte), para a qual somente a consciência que cada um tem de si e dos objetos poderia conferir realidade e validade objetiva àquilo que