Em meados da década de 70, Bourdieu, Foucault e Said dotaram a discussão sobre espacialidades em Ciências Sociais de um novo caráter, em que os limites entre real e representação -a justa apresentação daquele por esta em um percurso aproximativo -será tomada como uma falsa questão. Malgrado as distintas posições teóricas marcadas por ocasionais confluências, para esses autores, descrever é re(a)presentar a realidade, dotando-a de legitimidade.Em um texto clássico sobre o tema, Bourdieu (1998) concebe o regionalismo como um caso particular de instituição de uma identidade social, pautada nas disputas de reconhecimento de representações objetais (emblemas, bandeiras, insígnias) ou atos que têm em vista determinar a representação mental que os outros podem ter destas propriedades e dos seus portadores. O autor chama a atenção para a importância dos expedientes de reconhecimento da autoridade daquele que anuncia a divisão social que desenha limites e espacializa o real, assim como para o reconhecimento dos objetos anunciados pelo grupo a que se anuncia tal identidade. No Brasil, tais ideias foram utilizadas, por exemplo, em Penna (1992) que define regionalismo como "o processo que torna o espaço significativo (...) ao tornar uma região socialmente visível, criando uma forma de representação difundida e aceita " (1992:19). Said (1990), em seu estudo sobre o orientalismo, chama a atenção para o fato de tal visibilidade possuir um caráter prático de dominação. Assim, a metodologia empregada pelo autor "não depende [ria] de um exaustivo catálogo de textos (...) nem de um conjunto claramente delimitado de textos, autores e ideias que juntos formam o cânone orientalista " (1990: 16). Ao contrário, já que seu objeto não é a verdade sobre o Oriente, ou a aproximação e distância que um conjunto de textos guarda em relação a uma determinada materialidade ou espacialidade, caberia ao Campos 12(2):45-68, 2011.