ResumoTrata-se de um estudo qualitativo, do tipo exploratório descritivo, que teve por objetivo caracterizar o conhecimento intuitivo no cuidado de enfermagem. Os dados qualitativos foram obtidos através de entrevistas semiestruturadas com 78 profissionais de enfermagem do sexo feminino. A análise dos dados foi realizada com base no QSR vivo e interpretados através de um referencial teórico construído a partir de estudos da literatura da enfermagem norte-americana. A partir da análise das informações, a intuição emergiu enquanto sentimento, conhecimento e como ambos. Foram identificados três atributos definidores: 1) conhecimento de um fato ou verdade; 2) compreensão imediata do conhecimento; 3) conhecimento independente do processo de raciocínio linear, bem como três tipos de intuição: inferência cognitiva, intuição gestáltica e função pré-cognitiva. Os resultados deste estudo mostram um paralelo com os encontrados na literatura da enfermagem norte-americana.
IntroduçaoNas últimas duas décadas, estudos sobre o conhecimento intuitivo vêm se destacando na literatura da enfermagem norte-americana, bem como em outras áreas do conhecimento. O interesse crescente pelo conhecimento intuitivo emerge em plena crise da racionalidade ocidental, na qual se baseia o paradigma da ciência tradicional. Nesse paradigma, o conhecimento intuitivo, por ser considerado uma forma não estruturada de raciocínio e sem o uso de cálculos deliberados, foi subestimado em relação ao uso da lógica analítica e linear de raciocínio, a qual se processa através de etapas deliberadas e informações específicas e óbvias.Historicamente, a enfermagem aceitou a superioridade da ciência e dos métodos científicos de validar o conhecimento; entretanto, a literatura tem evidenciado a existência de uma variedade de formas pelas quais o conhecimento tem sido construído (1) . Um estudo da literatura norte-americana, ao evidenciar quatro padrões de conhecimento na enfermagem -empírico, estético, ético e pessoal -e apontar a intuição como um padrão de conhecimento estético, parece ter contribuído para o interesse crescente pelo conhecimento intuitivo (2) . Esse conhecimento vem também sendo considerado uma dimensão do conhecimento pessoal (3) , o que demonstra uma divergência de posição na literatura. Moch, ao focalizar o conhecimento pessoal, identificou três componentes: conhecimento experiencial, conhecimento interpessoal e conhecimento intuitivo ou intuição, sendo esse último um dos mais abordados na literatura (1) . A intuição tem sido descrita na literatura como conhecimento e sentimento que possibilita a tomada de decisão sem o recurso do processo analítico consciente. No entanto, algumas autoras parecem fazer distinção entre sentimento intuitivo e pensamento intuitivo (5)(6)(7)(8) . Essa dicotomia se opõe ao nosso entendimento, tendo em vista que o sentimento e o pensamento são indissociáveis, estando um sempre ligado ao outro (9) . Neste sentido, o conhecimento atribuído à intuição é aquele baseado no reconhecimento de um padrão global, de totalidade...