INTRODUÇÃOSabe-se que a doença renal crônica (DRC) é um problema mundial de saúde pública, principalmente em adultos, e há perspectivas de aumento progressivo dela na população adulta nas próximas décadas. A prevalência da DRC em adultos com 30 anos ou mais está projetada para aumentar dos atuais 13,2 para 14,4% em 2020 e para 16,7% em 2030 na população dos Estados Unidos.1 Há na literatura descrição de aumento na incidência e prevalência da insuficiência renal em escala mundial, com reflexos diretos em desfechos clínicos dos pacientes portadores desta enfermidade e nos altos custos para o sistema de saúde. O gasto total nos Estados Unidos (excluindo gastos com os medicamentos prescritos) para pacientes com insuficiência renal atingiu quase 29 bilhões de dólares em 2012, respondendo por cerca de 6% dos custos do orçamento da saúde naquele país. Essa epidemia é um resultado direto do aumento da prevalência e do descontrole clínico dos maiores causadores da DRC, a saber, o diabetes mellitus (DM) e a hipertensão arterial sistêmica (HAS).
2A doença cardiovascular (DCV) é também frequentemente associada com DRC e, mais importante, a DRC é um fator de risco para DCV independentemente da presença de diabetes. Ainda mais, os indivíduos com DRC têm probabilidade maior de morrer de DCV do que evoluir para doença renal terminal propriamente dita.3 A mortalidade decorrente da doença cardiovascular é 10 a 30 vezes mais frequente nos pacientes em diálise do que na população geral. 4,5 Nos pacientes com insuficiência renal terminal a mortalidade por DCV responde por 45% de todas as causas de mortalidade; dentre estas, a morte súbita responde por 62%, ou um quarto do total da mortalidade cardiovascular, e a doença coronariana é responsável por grande parte desses eventos. Há uma estimativa de que os pacientes em diálise apresentem taxa de 7% de morte súbita ao ano.3 Tanto a mortalidade quanto a taxa de eventos cardiovasculares aumentam de acordo com a queda da TFG abaixo de 60 mL/min/1,73 m 2 (hazard ratio ajustada: 1,2; 1,8; 3,2; e 5,9 para morte, e 1,4; 2,0; 2,8; e 3,4 para evento cardiovascular para as categorias de TFG de 45 a 59, 30 a 44, 15 a 29, e <15 mL/min/1,73 m 2 , respectivamente).
RESUMOAs doenças cardiovasculares representam a maior causa de mortalidade nos pacientes renais crônicos no pré e pós-transplante renal. Dentre elas, a doença coronariana apresenta destaque especial. Preditores de risco têm sido usados no seu diagnóstico, que é desafiador. O presente trabalho constitui artigo de atualização a respeito da fisiopatologia, do diagnóstico, do prognóstico e do manejo terapêutico da doença coronária na doença renal crônica. Palavras-chave: insuficiência renal crônica; doenças cardiovasculares; doença da artéria coronariana.
ABSTRACTCardiovascular diseases are major causes of mortality in chronic renal failure patients before and after renal transplantation. Among them, coronary disease presents a special emphasis. Predictors of risk for coronary heart disease have been used for its challenging diagnosis. The c...