Inexistência de infecção por Piedraia hortae entre o grupo indígena Suruí, Rondônia

Abstract

Recentemente tivemos a oportunidade de rea lizar observações sobre a epidemiologia de piedra preta entre grupos indígenas Tupi-Mondê na região do Parque Aripuanã (Rondônia e Mato Grosso). Essas populações compartilham não só de um mesmo ecossistema (mata de terra-firme), mas também de uma série de traços culturais tais como habitação, alimentação e vestuário, tendo havido, inclusive, intensa atividade guerreira entre os vários grupos da região1.Entre os Zoró, encontramos 74 (56,9%) indi víduos infectados, de um total de 130 pessoas exa minadas2. Entre estes, os pequenos nódulos escuros aderidos aos cabelos são percebidos como um " amuleto" que favoreceria as caçadas.Curiosamente, a piedra preta nãb é igualmente presente entre seus vizinhos, os Surul. Em recente viagem à área (janeiro de 1990), cerca de 400 indivíduos, incluindo adultos e crianças, foram minu ciosamente examinados, com resultados negativos.Não encontramos explicação para a inexistên cia de piedra preta entre os Suruí, haja vista ser esta infecção relativamente freqüente entre seus vizinhos Zoró. O relato que ora fazemos chama a atenção para o pouco que se conhece sobre a epidemiologia e ecologia da piedra preta entre populações indígenas.