A fabricação do rei. A construção da imagem pública de Luis XIV

Abstract

Dizia Montesquieu que "o esplendor que envolve o rei é parte capital de sua própria pujança". Mais do que um elogio, a consideração sintetiza particularidades da monarquia, ou mesmo, a dimensão simbólica presente em qualquer tipo de poder público e político. Com efeito, se é só a realeza que introduz o ritual em meio à sua lógica formal e no corpo da lei, podese dizer, porém, que não há sistema político que abra mão do aparato cênico, que se conforma tal qual um teatro; uma grande representação.Seguindo essas pistas, Marc Bloch, em ensaio pioneiro sobre as mentalidades, datado de 1924, analisava o fenômeno do toque realo caráter maravilhoso dos reis taumaturgos -, demonstrando como se devia atentar antes para a expectativa coletiva do milagre, do que para o milagre em si.Norbert Elias, por outro lado, acentuou a importância da etiqueta no interior do Antigo Regime, encontrando uma lógica que nada tinha a ver com o mero adereço, ou com a idéia da existência de vogas aristocráticas luxuosas e sem sentido. Na verdade, não foram poucos os autores que, partindo de eixos e perspectivas diversas, destacaram a relevância do ritual na efetivação do poder, no caso monárquico. Autores como Starobinski, com a análise dos símbolos da realeza, Kantorovicz, com a demonstração do corpo duplo do rei, e ainda C. Geertz, que em Negara demonstrou como em Bali não existiam cisões entre realidade e representação, revelaram as potencialidades do tema e os vínculos entre lógica racional e lógica simbólica.Na verdade, essas e outras obras têm destacado, a partir de ângulos diversos, como as vestes, os objetos, a ostentação e os rituais próprios

King George III of England and Queen Maria I of Portugal: bipolar disorder and prince regents as common features of their reigns

“…As gifts bearing the leader’s image, these monarchic rituals help foster reverence and extend the monarchs’ own personalities, hovering high over their subjects’ heads. 4 …”

Iconografia política: reflexões para exercícios de análise no ensino de História

“…As imagens da Revolução Francesa, entretanto, foram precedidas de uma longa tradição de iconografia política -que teve um de seus pontos altos na época da construção da imagem pública do rei francês Luís XIV, no século XVII, como demonstra o historiador inglês Peter Burke (1994). O autor chama atenção para alguns pontos importantes para a compreensão dessas imagens: a) a imagem pública de Luís XIV não era simplesmente favorável: tinha uma qualidade sagrada, pois os soberanos daquela época eram considerados representantes da majestade divina; b) suas imagens representavam também o Estado; e c) as imagens construídas através de pinturas, gravuras, poemas, peças teatrais, estátuas eram, ao mesmo tempo, encomendas para expressar o poder do rei, aumentar sua glória, expressão da devoção dos súditos, tentativa de persuadir os súditos, e projeção de uma imagem para as cortes estrangeiras e para a posteridade (BURKE, 1994, p. 20-22).…”

“…Conforme Peter Burke (1994), o rei era visto pela maioria de seus contemporâneos como uma figura sagrada, sendo carismático -no sentido original da palavra, de ter sido ungido com o óleo sagrado do crisma, e no sentido moderno, de ser um líder envolto em uma aura de autoridade.…”

“…Outra forma recorrente, abordada por Peter Burke (1994), foi o retrato solene, inspirado na "retórica da imagem renascentista" (destinada a pessoas importantes). Nele, o retratado é apresentado em tamanho natural ou maior, em pé ou sentado no trono; os olhos estão acima do espectador, para sublinhar a superioridade; usa armadura ou roupas ricas, cercado de objetos relacionados ao poder; exibe uma postura de dignidade.…”

“…Um dos roteiros de análise de imagens que foram aplicados ao longo da trajetória docente anteriormente referida consistia em uma série de perguntas a serem feitas perante a imagem a ser analisada. Elas foram sistematizadas no quadro a seguir e as suas fontes são obras como a de Burke (1994), Ferreira e Franco (2009), Claro 2012…”