ApresentaçãoO mais importante desafio da esquerda consiste em conter o avanço voraz da racionalidade econômica sobre a vida social. O que está em questão não é tanto a apropriação dos resultados ou dos meios materiais que permitem o exercício do trabalho: é, antes de tudo, a própria sociedade do trabalho. Não se trata de abolir seu pressuposto básico, o mercado. Trata-se sim de impedir que ele determine como os indivíduos organizam suas vidas e de ampliar ao máximo as formas de interação que não respondem às exigênci-as mercantis. Isso não se alcança por meio de uma instância centralizada que substitua o mecanismo dos preços pelo planejamento, e sim pelo alargamento das formas de vida que não se apoiam no mercado e das quais os hackers, o movimento de softwares livres e o Creative Commons (http:// creativecommons.org/) são as expressões mais emblemáticas. Atividades comunitárias, cuidados pessoais, produção e difusão do conhecimento e da informação, valorização da biodiversidade e da integridade dos ecossistemas, relações afetivas são campos da existência ameaçados pelo mundo das mercadorias e, ao mesmo tempo, nos quais há um extraordinário potencial para construir novos modos de relações entre os indivíduos e com o mundo natural. O capitalismo não será ultrapassado pela apropriação coletiva dos grandes meios de produção e troca, e sim por uma transformação radical