A Oncologia Pediátrica é a subespecialidade que mais sofreu avanços nos últimos 30 anos, época em que surgiu a maioria dos serviços especializados em nosso país. Em todos eles, as leucemias ocupam lugar de destaque na incidência de doenças malignas, sendo predominantemente aguda (95% a 98%). Entre essas, as linfóides respondem por 70% a 80% dos casos. Já nas leucemias crônicas, apenas a mielóide se manifesta em crianças e adolescentes.Existem três patologias que são frustrantes em relação à sobrevida para os que exercem a oncopediatria: o neuroblastoma, a leucemia mielóide aguda e os tumores do sistema nervoso central. As duas primeiras, pelas insatisfatórias taxas ainda obtidas em nossos dias, e a última, pela qualidade de sobrevida. Temos trabalhado com taxas de sobrevida superiores a 70% para quase todas as malignidades, e o fato de nos depararmos com taxas que oscilam em torno dos 30% a 40% é, por um lado, desanimador, e, por outro, nos instiga a novas pesquisas, tentando descobrir o que se passa no interior da célula maligna que a torna mais ou menos agressiva, mais ou menos responsiva à quimioterapia e à radioterapia.A relevância do trabalho apresentado neste número pelo Prof. Marcos Borato et al. 1 está em nos mostrar o comportamento das leucemias mielóides agudas em um serviço de referência, relato este pouco freqüente entre nós 2 . O presente trabalho nos fala de pacientes abaixo de 16 anos. O ideal em nossos dias é cuidar dos jovens até os 19 anos ou até os 21, como já ocorre no exterior. Chamo a atenção para esse fato, pois a cada dia aparecem mais artigos sobre o câncer no adolescente, e estamos mudando nosso aprendizado no momento em que olhamos para a incidência e o comportamento das doenças malignas nessa faixa etária, principalmente de 15 a 19 anos, faixa não contemplada no referido trabalho.A classificação precisa das leucemias é o ponto de partida para o tratamento adequado e o seu prognóstico. Desde 1976, especialistas franceses, norte-americanos e britânicos publicaram a classificação FAB, essencialmente morfológica, que foi revista em 1985 e que se tornou o marco no estudo das leucemias agudas. Nela, as leucemias linfóides agudas (LLA) são divididas em L1, L2 e L3. As mielóides foram inicialmente classificadas em M1 (sem maturação), M2 (com maturação), M3 (promielocítica), M4 (mielomonocítica), M5 (monocítica), M6 (eritroleucemia) e M7 (megacarioblástica); posteriormente, foi acrescido o subtipo M0 (sem diferenciação). A análise morfológica, mesmo utilizando-se a citoquímica, é muitas vezes insuficiente para determinar com exatidão a linhagem celular. Outros métodos foram agregados, e, hoje em dia, a imunofenotipagem está indicada em todos os casos de leucemia aguda com o objetivo de fazer um diagnóstico preciso, evitando erros na interpretação da morfologia entre os blastos da LLA e alguns subtipos da LMA. Realizada com o uso de anticorpos monoclonais, tem alta especificidade e sensibilidade para distinguí-las.Em 1988, foi publicado o segundo estudo cooperativo para a classificação morfológ...