A ventrículo-auriculostomia é indicada principalmente no tratamento da hidrocefalia comunicante. Em virtude de sua técnica bastante simples e da mortalidade operatória práticamente nula, tem sido também usada em pacientes com bloqueios ao trânsito do líquido cefalorraqueano (LCR) determinados por numerosas causas 1 a 8 .De 1958 a 1965 empregamos a ventrículo-auriculostomia, com válvula de Holter, em 182 doentes. Dêstes, 134 eram crianças hidrocefálicas, isto é, com bloqueio ao trânsito do LCR provocado por malformação congênita ou processo neonatal. Nos outros 48 pacientes êste bloqueio era causado por processo inflamatório ou tumoral, cujos sintomas surgiram após o primeiro ano de vida. A despeito das complicações observadas, principalmente de natureza infecciosa, esta técnica nos parece muito útil, pois até recentemente tais casos demandavam intervenções cirúrgicas complicadas e de resultados precários.Neste trabalho analisaremos os resultados obtidos no tratamento dos bloqueios inflamatórios e tumorais ao trânsito do LCR, instalados depois do primeiro ano de vida, com exceção dos casos de neurocisticercose que serão estudados em publicação ulterior. Nossa experiência no tratamento da hidrocefalia, assim como o estudo das complicações infecciosas verificadas com esta técnica, serão também objeto de outros trabalhos.
MATERIAL E RESULTADOSDe 1958 a 1965, 48 pacientes com bloqueio ao trânsito do LCR, causado por processo inflamatório ou tumoral do sistema nervoso central, foram submetidos à ventrículo-auriculostomia com válvula de Holter. Destes doentes, 16 eram portadores de cisticercose encefálica e serão estudados em trabalho ulterior. Nos 32 casos restantes a obstrução ao trânsito do LCR era causada em 20, por neoplasias encefálicas, e em 9, por processos inflamatórios crônicos ou subagudos da leptomeninge ou do epêndima ventricular; em 3 casos a natureza do obstáculo não ficou esclarecida. A idade dos doentes variou de 3 a 52 anos, sendo 17 do sexo feminino e 15 do masculino.