In memoriam: Prof. José Procópio Rodrigues do Valle

Abstract

In Memoriam Prof. José Procópio Rodrigues do Valle F ui incumbido pelos Arquivos Brasileiros de Endocrinologia e Metabologia (ABE&M), na pessoa da Dra. Kimura, de escrever algo sobre a figura do Procópio. Uma missão desta envolve alegria e tristeza quando elogiamos seus feitos e descobrimos que ele não está mais entre nós. Procópio nasceu em Minas Gerais (nas cercanias de Juiz de Fora), e formou-se na, então, Universidade do Brasil (Praia Vermelha) em 1944. Em 1942, na cadeira do Professor Annes Dias, iniciou, entre nós, a terapêutica corretiva dos distúrbios hidroeletrolíticos. Interrompeu o curso, ao ser convocado pelo Exército, por ocasião da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Com a vinda de Hans Selye ao Rio (autor do livro Stress) e virtual candidato ao Prêmio Nobel, que o estimulou a fundar a Sociedade de Endocrinologia em 1º de setembro de 1950, tendo o apoio dos clínicos que faziam endocrinologia, como Clementino Fraga Filho e Waldemar Berardinelli, que aceitaram, desde que, ele, Procópio, fosse o secretário. Com o apoio do idealista Ulhoa Cintra, Emilio Mattar, entre outros, funda a Sociedade Brasileira de Endocrinologia. Este núcleo seleto de profissionais com idéias semelhantes fez nascer a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), hoje a terceira do mundo em número de sócios. Fundada a SBEM, Procópio, sempre ativo, funda a Sociedade Brasileira de Diabetes. Todas estas atividades societárias não impedem que fundasse o Serviço de Endocrinologia do Instituto de Previdência a Assistência dos Servidores do Estados (Ipase), então o único hospital classe A da América do Sul. Querendo abraçar a vida acadêmica venceu por concurso (fazia questão de dizer sempre) a Cadeira de Endocrinologia da Universidade Federal Fluminense, que acredito ter sido a primeira no Brasil. Procópio, ainda ressalto, além de profissional exemplar era poeta bissexto. E em seu sítio, em Juiz de Fora, criou cães de raça e os registrou no Registro Mundial de Raças: Fila Brasileiro. Gostava de escrever, era um ser epistolar, creio ter sido um dos estímulos a me fazer escrever a História da Endocrinologia, agora em sua 3ª edição. Adorava escrever longas cartas aos amigos (tenho várias), não só analisando, mas, sobretudo, dando sugestões, muitas das quais implementadas. Gostava de citar Ulisses, na Odisséia, que dizia "Faço parte de tudo que me cerca". Honro em poder afirmar ter sido Procópio meu amigo. Procópio, esteja onde estiveres, aceita a gratidão e os aplausos dos que contigo conviveram, pois se a vida é finita, tua obra é imortal.