M INHA PRIMEIRA INTENÇÃO ao esboçar um editorial para essa Edição Especial era totalmente outra. Tanto que o título da matéria seria: "Porque a Adrenal é a Mais Atraente, Sedutora e Assustadora Glândula da Endocrinologia para os Especialistas (Imaginem para os Outros!)". Ainda escrevo sobre isto algum dia, mas neste momento optei por um assunto mais sério. As doenças que acometem as glândulas adrenais são muitas e praticamente todas raras. Entre as mais comuns, a hiperplasia adrenal congênita por deficiência de 21-hidroxilase, a doença de Addison, e a síndrome de Cushing, nem sequer se aproximam em freqüência do diabetes mellitus, da tiroidite de Hashimoto, da doença de Graves, ou da síndrome dos ovários policísticos, para ficarmos em algumas poucas.Não se trata aqui de comparações inconseqüentes entre freqüência ou prevalência de doenças ou sub-especialidades endócrinas. Muito mais promissor e apropriado, volto-me para um tema que merece grande consideração, mas que tem sido apenas superficialmente discutido nos bastidores da nossa Sociedade. A observação que faço neste editorial tem enfoque na patologia adrenal e, mais especificamente, no carcinoma adrenal, mas na verdade vale para toda e qualquer doença que tenha baixa prevalência e que seja, assim, considerada rara ou incomum.Embora um único caso seja suficiente para se contar toda uma história sobre determinada doença, é necessário, neste caso, que o investigador seja um ótimo observador, tenha vasto conhecimento na área, seja arguto e, mais que tudo, tenha à sua disposição um laboratório bem aparelhado para dosagens hormonais específicas (esteróides, em particular) e para avaliação em genética molecular. Mesmo assim, estudos detalhados com um ou poucos pacientes portadores de moléstias raras e pouco exploradas, são limitados.Daí a proposição deste editorial, um desafio para todos aqueles que trabalham e têm um gosto especial por doenças incomuns na área de adrenal, em particular pelos tumores adrenais: produzir e manter um registro nacional de pacientes e formar um consórcio para estudo do material deles obtido (plasma, soro, tecido e DNA).A idéia e o desafio ficam aqui lançados, na expectativa de que estímulo e apoio possam ser oferecidos pela Comissão Científica da SBEM e pelos associados que tenham interesse no assunto. A gerência deste consórcio poderia, com maior propriedade, ser assumida pelo Departamento Científico da sub-especialidade (no caso, o Departamento de Adrenal e Hipertensão da SBEM). Os possíveis laboratórios interessados em determinada doença adrenal ou em aspectos da doença -e não são muitos no país os que se interessam objetivamente pela patologia adrenal -, poderiam desenvolver melhor suas habilidades específicas com os recursos de que dispõem e disponibiliza-las para os demais consorciados. Quem sabe não haveria maior possibilidade em se obter melhores recursos de instituições nacionais de apoio à pesquisa, se um grande projeto temático colaborativo com abrangência nacional não fosse apresentado com a chancela da SBEM?