Este anti-resumo diz do anti-poema que aqui se apresenta que ele não tem como propósito convencer ou induzir os leitores a quaisquer teses acerca de possíveis conexões entre literatura, matemática e educação. Este anti-poema sem conteúdo, lógica,
enredo ou propósito também não problematiza nada e nem reivindica autoria, originalidade ou cientificidade. Se autor houver que, com certeza, a possa reivindicar, ele não é outro senão
o acaso, o imprevisível. Este anti-poema que não contém partes é constituído de duas partes. Na primeira – que antecede mas também se inclui na segunda –, apresenta-se ao leitor este
anti-resumo da segunda. Na segunda parte, inspirando-se talvez – pois nunca se pode dizer com certeza – na leitura dos Sete Manifestos Dada de Tristan Tzara, bem como no processo
de confecção de uma colcha de retalhos vistos como enxertos remissivos citacionais - à semelhança das colagens de Kurt Schwitters (1887-1948) e Hans Arp (1886-1966) -, o acaso
inventa e apresenta um anti-poema pastiche que, por acaso, acabou assumindo a forma de um anti-poema manifestamente dada. Este anti-poema se apresenta terapeuticamente sob a
forma de caixas de textos ou imagens espalhadas aleatoriamente ao longo das próximas 13 páginas desta revista digital que, talvez, não por acaso – pois nunca se pode dizer com certeza -, decidiu publicá-lo Ah, desculpem-me! Eu estava quase me esquecendo de dizer. O antipoema que este anti-resumo de duas partes não resume tem também uma terceira parte: um anti-posfácio que sucede mas também se inclui nas outras duas partes que o antecedem. Na terceira parte – agora eu, e não mais o acaso – faço referências e, às vezes, esclarecimentos às citações textuais ou imagéticas contidas nas caixas de textos ou imagens aleatoriamente numeradas para indicar fontes e autorias, satisfazendo, assim, o ego dos que ainda insistem em reivindicá-las ou de obrigar-nos a citá-las, ainda que poetas não citem as suas fontes ou as atribuam, todas, às musas. O acaso então proporciona a vocês, leitores e leitoras, a chance de
se envolverem com uma experiência de leitura terapêutica de um texto produzido de um modo bem diferente dos usuais e, sobretudo, muito diferente de um texto regrado e argumentativo característico do mundo acadêmico. Proponho que vocês o leiam
aleatoriamente – e, portanto, na ordem segundo a qual vocês decidam percorrer as suas páginas e, cada página, na ordem segundo a qual vocês decidam percorrer as caixas de textos
ou imagens - como se cada uma de suas páginas fosse uma página de um site qualquer da internet. Proponho, então, que vocês o leiam como se ele fosse um hipertexto em que as notas
funcionam como placas de sinalização – mas nunca de interpretação ou análise – da leitura terapêutico-casual que fiz dos Sete Manifestos Dada de Tristan Tzara. Ao assim procederem,
consentindo que as mãos do acaso lhes afetem conduzindo-lhes em suas leituras personalizadas do texto, vocês estarão também realizando, com certeza, outras leituras autoterapêuticas dos Manifestos. Quero finalmente lhes dizer que o acaso me levou a oferecer este anti-poema réquiem a todos os mortos da Primeira Guerra Mundial, bem como, talvez – pois nunca se pode dizer com certeza -, a todos os mortos por virem de outras guerras à vista
ou que estão sendo ou serão travadas em planos de invisibilidade, de silêncio, de imperceptibilidade. Ofereço também este anti-poema elegíaco casual a Tristan Tzara e a todos os artistas e escritores que ecoando, de uma outra maneira, os gritos inaudíveis de outros incontáveis artistas-vítimas ou desertores da Primeira Guerra Mundial, decidiram inaugurar em 1916, em Zurique, o Cabaret Voltaire.