De que maneira a participação das crianças em sala de aula pode contribuir para a produção e reprodução das desigualdades educacionais? Buscando responder a esta pergunta, a presente pesquisa analisou as interações de alunos de quarto e quinto ano com suas professoras em duas escolas, uma pública e outra privada, que atendem famílias de grupos sociais distintos.. A pesquisa baseou-se em múltiplas sessões de observação das interações , registradas em cadernos de campo e em uma planilha. Em todas as classes observadas, tanto na escola pública quanto na privada, o trabalho pedagógico baseava-se na pedagogia Freinet, que estimula a participação ativa dos alunos na construção da aprendizagem.. Os resultados indicaram que o número de crianças que buscava a interação com a professora na escola particular era mais alto do que na escola pública, os pedidos de ajuda mais frequentes e mais variados. Nessa escola, as crianças buscavam respostas para suas perguntas com maior empenho, chegando em algumas situações a exigir a ajuda ou a atenção das professoras, levantando-se e indo até onde essa se encontrava ou interrompendo o trabalho até serem atendidas. Dois tipos de ajuda foram frequentes. No primeiro, as crianças pediam ajuda para confirmar algo que já sabiam. No segundo, procuravam compreender as razões associadas às explicações dadas por suas professoras. Parte importante das perguntas surgiam depois de alguma reflexão sobre o assunto em discussão, o que permitia aumentar a complexidade das mesmas. As respostas da professora frequentemente davam origem a réplicas ou mesmo tréplicas, o que, em vários casos, estendia a profundidade do tratamento dado ao conteúdo. Na escola pública, por sua vez, uma proporção menor de alunos buscava interação com a professora e os pedidos de ajuda eram menos frequentes e menos variados. Além disso, as perguntas dos alunos eram mais curtas e mais diretas. Na maioria dos casos, os alunos iniciavam a interação em busca de orientação sobre aspectos operacionais da resolução de um problema ou da realização de uma atividade, em geral aceitando sem maiores questionamentos as respostas ou orientações das professoras. Poucas vezes os alunos buscavam por explicações para aspectos do conteúdo ou requeriam explicações adicionais. Os alunos costumavam pedir a atenção das professoras levantando o braço ou falando do lugar em que estavam sentados. Nas duas escolas, alguns alunos que aparentavam maior timidez ou maior dificuldade para desenvolver alguma atividade, não chegavam a pedir a ajuda ou desistiam depois da primeira tentativa de pedir ajuda às professoras. A proporção de alunos que vivenciaram essa situação ao longo dos períodos em que se desenrolou a observação nas duas escolas era nitidamente maior na escola pública do que na escola privada. Assim, mesmo levando em consideração as semelhanças e diferenças no planejamento das atividades nos dois ambientes, assim como no número de alunos presente em cada classe, as diferenças percebidas nas interações estabelecidas pelas crianças com suas professo...