Rompimento das barragens de Fundão e da Mina do Córrego do Feijão em Minas Gerais, Brasil: decisões organizacionais não tomadas e lições não aprendidas

Abstract

Resumo Introdução: rompimentos de barragens de rejeitos de mineração provocaram, em 2015, o maior desastre socioambiental e, em 2019, o maior acidente de trabalho do Brasil, ocasionando, respectivamente, a morte de 19 e 270 trabalhadores e moradores das áreas atingidas. Objetivo: identificar e discutir fatores gerenciais, de operação e de manutenção que podem contribuir para acidentes de rompimento de barragens, assim como sugerir medidas de aprimoramento de sistemas de gestão de empresas mineradoras, de políticas públicas e de normas técnicas que tratem da segurança de barragens. Métodos: ensaio com base em pesquisa documental. Foram utilizados relatórios oficiais sobre os acidentes, publicações técnicas e científicas e legislação pertinente ao tema. Resultados: fatores gerenciais, de operação, de manutenção, de engenharia e do ambiente de trabalho contribuíram para os rompimentos das barragens de Fundão e da mina do Córrego do Feijão. Discutem-se decisões gerenciais que levaram aos dois eventos e são apontadas medidas que poderiam ter evitado os acidentes. Conclusão: evidenciou-se a relevância da autonomia de técnicos e gerências na tomada de decisões, além da necessidade de alterar as normas técnicas utilizadas por empresas e os critérios de licenciamento e controle estatal de atividades que implicam grande risco ambiental e social.

O Barato Pode Custar Caro: Desastres Ambientais Envolvendo a Vale S.A. E Relações Com Riscos Empresariais

“…Ressalta-se que a avaliação da situação de risco, a construção de resultados possíveis, a determinação da probabilidade de ocorrência de eventos e a definição de soluções alternativas são específicas para cada empresa. Os acidentes e suas consequências socioambientais revelam falhas nos processos de gestão da segurança ambiental das empresas, que foram incapazes de garantir a segurança das barragens, dos empreendimentos, de seus trabalhadores e das populações afetadas (BOTELHO et al, 2021). Dessa forma, as estratégias adotadas na prática empresarial precisam estar alinhadas aos objetivos da empresa.…”

“…Do desastre emerge a consciência de que a atividade industrial representa um grande risco e coloca em perigo as pessoas e o ambiente, surgindo a incerteza (ESPINDOLA; NODARI; SANTOS, 2019). Acidentes ampliados, como rompimentos de barragens, não possuem uma causa única, mas de uma combinação de fatores acumulados ao longo do tempo, que tem suas origens em decisões técnico-organizacionais (BOTELHO et al, 2021).…”

“…Muito possivelmente, os gestores presumiram que, por meio dessas vantagens, os retornos financeiros da Vale seriam maiores, independentemente do risco atrelado. Conforme Oliveira e Pinheiro (2018) eBotelho et al (2021), o risco pode surgir com a ganância dos investidores por retornos maiores. Há uma tendência de que, quanto maior o risco, maior o retorno -correlação positiva.…”