Associação interna como forma de integração dos presídios às redes externas do tráfico: a percepção dos agentes territoriais da segurança pública no estado do Pará

Abstract

Resumo Este artigo busca compreender a estratégia de estabelecimento e manutenção de redes ou relações entre os agentes sintagmáticos internos ao cárcere como forma de integração dos presídios às redes territoriais externas do tráfico de drogas, a partir da percepção de agentes territoriais da segurança pública no estado do Pará. Pautado em um método hermenêutico e dialético, e sob uma abordagem qualitativa e quantitativa, o presente estudo se valeu da técnica de coleta de dados por entrevistas direcionadas a agentes territoriais da segurança pública no estado do Pará, seguida de uma análise do conteúdo das falas. Essa análise dos dados confirmou a existência da estratégia considerada, bem como suas possíveis peculiaridades locais (relativas à influência das transferências e à inadvertida junção de presos no cárcere). Igualmente, restaram identificados aspectos práticos sobre o processo de cooptação de internos e a centralidade das lideranças, bem como elementos relativos à economia interna das facções da atividade do tráfico de drogas.

cotidiano do policial penal

“…Um aspecto que caracteriza o tempo histórico atual é a política de "guerra ao crime" (GARLAND, 2008) que tem ressaltado a busca dos profissionais da segurança por uma atuação mais profissional e distanciada, com uma preferência por equipamentos, armas e modelos técnicos, em detrimento ao investimento em prevenção e aspectos relacionais e sociais (PONCIONI, 2007). Esse distanciamento é resultante também de uma nova dinâmica intramuros, pela organização das facções e do tráfico de drogas (REIS NETTO, 2019), do crescimento da população prisional, do aumento do número de policiais penais e da mudança do perfil destes. Anteriormente com baixa escolaridade, muitos com nível superior adentraram nos últimos anos nesta ocupação, atraídos pela estabilidade do concurso público associada ao regime de trabalho de plantão, que lhes permite muitas vezes ter outras ocupações ou seguir estudando para outros concur-1 Neste artigo, foi preservada a nomeclatura de agente penitenciário quando trazida na fala dos entrevistados e em citações textuais, e nas demais situações, utiliza-se Policial Penal ou a sigla PP.…”