Lucía Tennina - Cuidado com os poetas! Literatura e periferia da cidade de São Paulo. Porto Alegre: Zouk, 2017

Abstract

Tal pesquisa rendeu um rico material visual. Parte desse conteúdo ilustra o final de cada capítulo, estabelecendo um diálogo com os textos. Além disso, ao final da obra, o leitor encontrará um resumo bibliográfico dos autores citados, que fazem parte da literatura marginal da periferia. Esse anexo é imprescindível para uma melhor compreensão do livro como um todo, principalmente para aqueles que ainda não estão familiarizados com os poetas dos saraus da periferia de São Paulo.

Cultura e política: o antirracismo na literatura periférica

“…Esse processo também é fruto de uma complexa operação que passa por investidores, editores, críticos e acadêmicos que devem legitimar a obra para que então seja reconhecida como autenticamente literária. Análises como aquela feita por Karl Erik Schollhammer no livro Ficção brasileira contemporânea em que classifica obras de Ferrez como "de importância literária mínima" (apud, Tennina, 2017), quando recepcionada pela opinião pública pode significar a eliminação do escritor e sua obra da cena literária. Essa legitimação não está livre da chave do gênero e da raça, como mostra o estudo de Regina D'Alcastagne (2012) que trata da predominação no do trabalho de homens brancos da região sudeste no mercado das publicações literárias brasileiras.…”

“…Na zona leste, ainda no final dos anos 90, Alexandre Buzzo 10 redigia fanzines para distribuir na estação de trem, contando criticamente o cotidiano vivido pelos passageiros durante as viagens ferroviárias (Duarte, 2014 p. 56) (Nascimento, 2006). Com o lançamento do livro, Ferréz ganha considerável visibilidade através entrevistas, reportagens e palestras (Nascimento, 2006, Tennina, 2017.…”

“…A relativa notoriedade rende à Ferréz a oportunidade de se tornar colunista da Revista Caros Amigos, um periódico iniciado em 1997 pela Editora Casa Amarela, que circulava nos meios de esquerda com projeto de elaborar reportagens de profundidade em crítica ao neoliberalismo. Nessa posição, Ferréz propõe uma parceria de publicação com a Editora Casa Amarela, o projeto Literatura Marginal, que sairia como edições especiais da revista Caros Amigos (Nascimento, 2006;Reyes, 2011;Tennina, 2017).…”

“…Queria alcançar público fora do leitor convencional da revista (Nascimento, 2006;Tennina, 2017). A edição especial teve três volumes, Atos, I, II e III, publicados respectivamente em 2001, 2002 e 2004, editando, ao todo, 80 textos de 56 autores, sendo 13 rappers, oito mulheres (Leite, 2014), e ainda dois indígenas e dois presidiários (Nascimento, 2006).…”

“…O sarau se realizava no espaço intitulado BBinho, Bar do Binho, localizado na Região do Campo Limpo (Jardim Guarujá). O evento era realizado todas as segundas-feiras, sem um formato de horários de início e fim bem definidos nem quanto às linguagens artísticas, embora centrado na poesia (Duarte, 2016;Tennina, 2017) A par dos mais tradicionais e sólidos, como alguns citados acima, é muito frequente a criação de novos saraus e também o esvaziamento de outros ao longo do tempo. De todo modo, é inegável que existe uma enorme rede entre eles com intenso diálogo entre os escritores, dos quais muito frequentam mais de um ou vários saraus.…”