Alberto Mussa é, segundo ele próprio, um autor singular no panorama literário brasileiro contemporâneo, no que o realismo é hegemônico: "A literatura brasileira tem o vício do realismo. Não que eu seja contra. Admiro uma série de livros realistas. Mas, num conjunto literário onde você observa que todos trabalham com o mesmo princípio, isso é um problema" (Mussa, 2010, p. 12). Supõe-se, portanto, que Mussa se inscreve num dos múltiplos ramos da ficção fantástica: para ele, a matéria fundamental da literatura é a própria literatura, toda ela, sem fronteiras nem geográficas nem temporais nem estéticas:Não consigo trazer, para os livros, as minhas experiências pessoais. Então, procuro escrever a partir de um problema qualquer. É meu processo de criação. Encontro algum problema literário, alguma história que li, algum romance que me inspira, e digo: "Puxa, eu poderia dar a isso um tratamento x" (Mussa, 2010, p. 12).É, portanto, uma literatura que não só exclui o "eu" mas também a realidade tal como entendida pelo sentido comum: daí a sua necessária inscrição no fantástico. O próprio Mussa afirma que onde encontrou modelos para esse tipo de escrita foi primeiro em Bioy Casares e logo a seguir em seu parceiro Jorge Luis Borges -provavelmente o maior representante dessa tendência literária (maior em termos de radicalidade e de qualidade e impacto).Contudo, uma literatura da releitura é necessariamente uma literatura da reescrita. E a forma mais genuína de reescrita, a mais perfeita, é a tradução. 2 Não por acaso a teoria e a prática da tradução ocuparam algum espaço na obra de Borges. Apesar de não ter formulado uma teoria da tradução como tal, 3 Borges falou nela com alguma frequência e 1 Doutor em linguística, tradutor e professor da Universitat de Barcelona, Barcelona, Espanha. Email: perecomellas@ub.edu 2 Para Lefevere (1992), a edição, a crítica, a historiografia ou a antologia são outras formas de reescrita.3 "Existe también la difundida creencia de que Borges contribuyó a cierta teoría de la traducción y de que sus ensayos sobre estos temas forman algún tipo de corpus revelador. Sin embargo, si se leen con atención estos textos ('Las dos maneras de traducir', el prólogo a la versión de Néstor Ibarra de El cementerio marino de Paul Valéry, 'Las versiones homéricas' o 'Los traductores de las 1000 y una noches') los conceptos relacionados con el métier resultan en extremo exíguos" (Gargatagli, 2009).