O ethos e o pathos na sala de parto

Abstract

RESUMO Objetivo Compreender o ethos e o pathos presentes nos discursos de mulheres parturientes e profissionais de saúde no contexto da sala de parto. Método Pesquisa qualitativa do tipo interpretativa. Utilizou-se o método da Análise do Discurso. Participaram das entrevistas 36 mulheres e 24 profissionais de saúde de maternidades do interior de Minas Gerais. Resultados Os discursos sinalizam a concepção que as mulheres têm do parto, centrada no olhar do outro e nas suas representações; as dificuldades das enfermeiras para operacionalizar o cuidado e construir uma imagem profissional autônoma. O discurso médico enfatiza a especialidade, a capacidade de intervir em situações de risco e as mudanças no status da profissão. Conclusões A construção do ethos de médicos e enfermeiros é fundamental para o delineamento de campos de saberes mais flexíveis e parauma atuação profissional condizente com os seus papéis e comprometida com os preceitos éticos e legais do cuidado obstétrico.

Desvelando a vivência da parturição nas maternidades na percepção das usuárias

“…O presente estudo revelou que a presença e disponibilidade dos profissionais de saúde durante a parturição gera satisfação, além de ser um fator que promove segurança em relação aos cuidados recebidos (Duarte et al, 2019). Por isso, mesmo as mulheres que traziam em seu imaginário que o atendimento obstétrico no SUS não era bom, ao deparar-se com profissionais atenciosos e disponíveis ficaram agradecidas e avaliaram satisfatoriamente a experiência do parto, assim como valorizaram o atendimento no SUS (Oliveira & Penna, 2017a).…”

“…Entretanto, reconhecem os esforços dos profissionais de saúde em desenvolver suas práticas em um contexto caótico inerente à superlotação. Isso ocorre porque as mulheres tendem a minimizar os aspectos negativos durante a parturição quando o desfecho for positivo, com a presença de um bebê saudável (Oliveira & Penna, 2017a).…”

“…Essas práticas são questionadas quanto à sua efetividade no cenário obstétrico, mas existem evidências de sua presença em vários estudos (Lansky et al, 2019;Oliveira & Penna, 2017a;Oliveira & Penna, 2017b). Em relação ao toque vaginal, recomenda-se que seja realizado com o consentimento da parturiente e em intervalos de pelo menos quatro horas para avaliação do trabalho de parto (WHO, 2018).…”

“…O cuidado ofertado durante o parto e o nascimento deve ser permeado pelo uso de tecnologias não invasivas e por práticas baseadas em evidências, respeitando a fisiologia inerente a esse processo e considerando-se que o corpo da mulher é preparado naturalmente para parir (Russo & Nucci, 2020). Desta forma, o profissional de saúde envolvido no cuidado obstétrico deve prover uma relação empática e acolhedora com a parturiente, respeitando suas escolhas e promovendo sua autonomia (Oliveira & Penna, 2017a).…”

“…A despeito dessa compreensão, o protagonismo da mulher durante o parto não tem sido garantido (Russo & Nucci, 2020). Neste sentido, as evidências demonstram que o cuidado Research, Society and Development, v. 9, n. 11, e99191110509, 2020 (CC BY 4.0) | ISSN 2525-3409 | DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v9i11.10509 4 obstétrico é permeado por práticas assistenciais excessivamente intervencionistas, com utilização de técnicas muitas vezes desnecessárias e maléficas, em que prevalece a decisão unilateral do profissional de saúde em detrimento do cuidado centrado nas necessidades das mulheres (Lansky et al, 2019;Lopes et al, 2019;Oliveira & Penna, 2017a;Oliveira & Penna, 2018).…”