“…O fato de não falarmos sobre racismo, ou mesmo de ele ser mascarado pelos mitos de democracia ou paraíso racial, pressupondo um país onde todos somos iguais e não existe preconceito, faz com que tal estrutura seja naturalizada e as desigualdades sociais individualizadas -seja na "falta de capacidade" do negro, ou no "mérito" do branco. Além disso, a perspectiva da democracia racial "ofereceu uma justificativa que isenta a sociedade branca da responsabilidade sobre a discriminação racial (elemento fundante da branquitude) e, por conseguinte, culpabiliza a população negra" (Bento, 2022, p. 97) Tal realidade só é possível porque as matrizes sociais e coloniais se impõem também na nossa subjetividade, ou seja, existe uma dominação da dimensão subjetiva que nos fez aderir ao discurso colonizatório de forma a normalizar uma estrutura tão violentamente imposta e reproduzir, mesmo na intimidade, a lógica racista aqui subjacente (Rosa & Braga, 2018;Nakagawa et al, 2020;Guerra, 2021;Rosa, 2022). A psicologia e a psicanálise podem contribuir especialmente aos estudos das relações raciais por se debruçarem também na investigação do racismo em sua dimensão subjetiva, essencial justamente porque o enfrentamento do racismo só é possível nas duas vias: política e psiquicamente (Fanon, 2008), de modo a ser relevante destacar também os aspectos subjetivos do racismo e da branquitude.…”