Trajetória pedagógica e concepção do serO dilema existencial abordado por Shakespeare no monólogo de sua obra Hamlet: "Ser ou não ser. Eis a questão" foi preocupação permanente dos seres humanos. Este leva a uma reflexão profunda sobre a tentativa das pessoas por desentranhar os mistérios de sua existência. Cabe assinalar que esta preocupação existencial está implícita ou explicitamente presente ao fazer dos seres humanos, sujeitos orientados por uma concepção de ser humano particular, construída tanto cultural como socialmente. Encontramos esta concepção nas obras de filósofos, historiadores, sociólogos, físicos, biólogos e pedagogos.Neste capítulo apresenta-se a concepção de Paulo Freire de sua proposta pedagógica de ser humano até a sua prática. Toda ação humana leva implícita uma concepção de ser humano e de mundo. O mesmo Freire (1982, p. 63) assinala, referindo-se à Educação: "[...] toda prática educativa implica por parte do educador, uma posição teórica. Esta posição, por sua vez, implica uma interpretação do homem e do mundo [...]".Mas que envolvimento tem esta necessidade e interesse por compreender a concepção de ser humano em Freire? O que é "ser mais"? É a humanização como vocação ontológica do ser humano, que se constitui A cultura marca o aparecimento do homem no longo processo da evolução cósmica. A essência humana se existência auto-descobrindo-se como história. Mas essa consciência histórica, ao objetivar-se, surpreende-se reflexivamente a si mesma, passa a se dizer, a se tornar consciência historiadora; e o homem é conduzido a escrever sua história. Alfabetizar-se, é aprender a ler essa palavra escrita em que a cultura se diz, e se dizendo criticamente, deixa de ser repetição intemporal do que passou, para temporalizar-se, para conscientizar sua temporalidade constitui, que é anúncio e promessa do que se tem de vir. O destino, criticamente, recupera-se como projeto" (FREIRE, 1987, p. 21).