Uma relação concreta: A prática do futebol em São Paulo e os Estádios do Parque Antarctica e do Pacaembu

Abstract

RESUMO: Ao relacionar a introdução do futebol na cidade de São Paulo, seu desenvolvimento e a atração de torcedores, o artigo procura mostrar como esta prática esportiva tornou-se não apenas cultural, mas também material na Pauliceia. De maneira específica, o artigo analisa como dois dos principais estádios paulistanos foram forjados, e como as arquiteturas do Parque Antarctica, na Água Branca, e do Pacaembu, no bairro homônimo, possibilitaram o desenvolvimento e a celebração de uma tecnologia construtiva: a do concreto armado. O artigo explora, então, alguns caracteres de identidade da capital paulista: o futebol e o concreto armado, tecendo considerações sobre esta relação indelével, embora pouco explorada em nossa historiografia. PALAVRAS-CHAVE: Futebol. Concreto Armado. Parque Antarctica. Pacaembu. São Paulo. Estádios.ABSTRACT: Relating the introduction of soccer in the city of São Paulo, its development and the attraction of fans, the paper aims to show how this Sport can be seen not only as a cultural manifestation, but also, as a material contribution for the city. In a specific way, as the main goal, the paper analyzes the conformation of two Stadiums: the Parque Antarctica, built in the Água Branca neighborhood, and the Pacaembu, erected in the homonymous neighborhood. These stadiums, as notable architectures, served as passports to a celebration: the Reinforced Concrete Technology as a symbol of São Paulo. As a final contribution, the article discusses the Paulista identity from those elements: the soccer and the reinforced concrete, showing the hard ties between them, curiously almost nonexistent in our historiography.

Urbanismo esportivo na América do Sul: ordem, espetáculo e operações imobiliárias (1920-1955)

“…É o caso, por exemplo, do Palestra Italia (hoje, Palmeiras) que, em 1917, começou a alugar o campo do Parque Antarctica, criado pela própria Companhia Antarctica Paulista na virada do século como uma área de lazer para seus trabalhadores. Atique (et. al, 2015) utiliza a expressão "times em busca de arquibancadas" para se referir ao interesse dos clubes de futebol para se transformarem em proprietários dos seus próprios complexos esportivos, uma vez que isso estruturaria suas economias através das rendas dos ingressos para os jogos em que fossem mandantes.…”

“…Essa questão é ratificada por algumas estatísticas da atividade imobiliária da época, que mostram que, ainda que a construção de habitações tivesse aumentado por volta de 75% no período 1926-1936, a grande crise de 1929 e os abalos políticos que agitaram o Brasil entre 1930 e 1932 afetaram a dinâmica imobiliária na cidade 51 . Certamente, existiu uma pressão da Companhia City no Governo Estadual e na Prefeitura para que levassem à frente o projeto de construção do Estádio no grande terreno vazio reservado para isso, tal como descreveram Peixoto-Mehrtens (2010) e Atique (et al, 2015). No início da década de 1930, o terreno abandonado se transformou em um obstáculo à venda dos lotes vizinhos, e a edificação do complexo esportivo se transformou em uma necessidade para impulsionar, novamente, a venda de lotes e incrementar seu valor, além de acelerar o desenvolvimento urbano da região .…”

“…É difícil não relacionar esse interesse por um novo e moderno complexo esportivo com as obras que estavam prontas para ser inauguradas a poucos quilômetros do Pacaembu: no dia 13 de agosto de 1933, o clube Palestra Italia inaugurou suas novas arquibancadas de concreto armado em um jogo do Torneio Rio-São Paulo contra o EC Bangú (Atique et al, 2015), que substituíram as velhas estruturas de madeira. Tal acontecimento deve ter estabelecido um novo patamar em relação ao que os maiores clubes esportivos de futebol da cidade deveriam fazer para atrair um maior número de torcedores e, assim, incrementar a venda de ingressos dos jogos.…”