Manifestações simbólicas em Santa Elina, Mato Grosso, Brasil: representações rupestres, objetos e adornos desde o Pleistoceno ao Holoceno recente

Abstract

Resumo Santa Elina, na Serra das Araras, no Mato Grosso, oferece uma notável composição de dois conjuntos arqueológicos excepcionais: a) um dispositivo parietal de um milhar de pinturas, adaptando-se estreitamente à morfologia do abrigo que se encontra ao pé de uma falésia calcária; b) um conjunto de ocupações distribuídas em duas sequências estratigráficas, uma indo até o Pleistoceno há 27.000 anos, a outra constituída de uma densa sucessão de ocupações durante o Holoceno, datadas entre 11.000 e 2.000 anos. Os primeiros habitantes do sítio conviveram com e caçaram uma espécie de megafauna, tornada fóssil no início do Holoceno: o Glossotherium lettsomi. Três adornos feitos nos ossículos do animal são provas de sua importância para os caçadores. A utilização intensiva pelos habitantes de pigmentos minerais, principalmente vermelhos (hematitas) e a de vegetais (madeira, fibras e folhas), caracteriza as ocupações que se seguem: particularmente, ‘pavimentações’ feitas de blocos manchados de vermelho, ou ornamentos corporais trançados. Os conjuntos líticos, principalmente feitos de calcário local, duro e fácil de lascar, são bem presentes em todas as ocupações. Os utensílios com reentrância dominam durante o Pleistoceno. É um dos mais antigos sítios da América do Sul, mostrando a intensidade de povoamentos pré-históricos no centro do continente.

Ice Age megafauna rock art in the Colombian Amazon?

“…Detailed analysis of the juxtapositions and superimpositions in the parietal sectors where these paintings occur needs to be carried out, but we can propose as a working hypothesis that these large, ‘monumental' paintings were the first to be created followed by gradually smaller ones at lower heights on the panels. This temporal arrangement of paintings has similarities to the ‘Large Naturalistic Animal Period' of Australia [ 83 ] and observations made by Vialou & Viaolu [ 39 ] at Santa Elina, who found that large, uncluttered, naturalistic paintings are often located in the central and top sections of rock walls. More work and dating of the paintings will be required to test this hypothesis and to explore to what extent the variety of early art mimics the diversity of material culture across South America [ 84 ].…”

“…Further dating of this bone assemblage need to be carried out to confirm this anomalous late date for megafaunal survival into the Holocene. Three osteoderms of the giant ground sloth Glossotherium lettsomi flattened by abrasion and perforated like pendants were recovered from the Santa Elina site in levels dating to 27 ka [ 39 ]. Although relatively little is known about behaviour or social structure of extinct giant ground sloths, new evidence from a monotypic late Pleistocene locality, Tanque Loma, coastal southwest Ecuador, provides insights into the potential gregarious nature of these megafauna [ 40 ].…”

Are Fossils Mineral or Cultural Heritage? The Perspective of Brazilian Legislation

“…Only when there is evidence of the existence of values related to the identity, actions, or memory of the different groups that make up Brazilian society will the possibility of protection as a cultural heritage be evaluated. One example is the fossils described by Vialou and Vialou (2019), whose ornaments, made with Glossotherium lettsomi ossicles, demonstrate the coexistence of megafauna and prehistoric man 27 thousand years ago in Brazil. This notion that a fossil becomes a cultural heritage only in cases where its relationship with human history is proven has also been defended by international authors, such as Nudds (2001).…”

A cronologia das pinturas rupestres da Caverna da Pedra Pintada, Monte Alegre, Pará: revisão histórica e novos dados

“…Mesmo diante das dificuldades de contextualização cronológica dos vestígios rupestres, estudos como o empreendido no sítio Caverna da Pedra Pintada mostram a importância de abordar contextos arqueológicos de maneira integrada. Sítios importantes para a discussão das ocupações humanas mais antigas na América do Sul, como os da Serra da Capivara (Guidon, 2004), Santa Elina (Vialou, A.;Vialou, D., 2019), Lapa do Santo (Neves et al, 2012), Abrigo do Sol (Miller, 2009), Pedra do Sol (Valle, 2015), possuem em comum a expressiva manifestação de arte rupestre, sejam elas pinturas ou gravuras. A obtenção de dados cronológicos e de possibilidades de contextualização associadas aos estudos técnicos e temáticos da produção dos grafismos pode contribuir para pensarmos na variabilidade comportamental dos primeiros povoadores do continente.…”