Guaraná, a máquina do tempo dos Sateré-Mawé

Abstract

Antropóloga, pesquisadora independente.Brasília, DF, BrasilResumo: Mais que um produto agrícola, o guaraná é o passado, o presente e o futuro do povo junto ao qual foi encontrado pelos missionários jesuítas que fizeram o primeiro registro histórico de sua ocorrência na região interfluvial Madeira-Tapajós, na segunda metade do século XVII. Constitui, desde então, o marcador étnico por excelência do povo Sateré-Mawé. Além de estar no centro das explicações sobre a sua origem e organização social, o guaraná fez dos Sateré-Mawé o primeiro povo indígena brasileiro na história com um produto próprio, transformado e sistematicamente comercializado, em tempos coloniais e do Império. No Brasil republicano, da virada do milênio, é um dos primeiros que aparece associado aos conceitos e práticas mais avançados na perspectiva dos paradigmas pós-modernos da sustentabilidade, da produção orgânica certificada, do comércio justo e solidário e do desenvolvimento ecossustentável. E o faz sempre investido de uma notável potência de agregação social: originalmente, no seio de uma sociedade tradicionalmente segmentada e, na contemporaneidade, ocupando papel destacado em movimentos colaborativos interinstitucionais nacionais e internacionais. Para os Sateré-Mawé, o seu Waraná nativo é memória e promessa de navegação segura ao longo do tempo. Este artigo se propõe apresentar e discutir como isso vem sendo possível.Palavras-chave: Sateré-Mawé. Guaraná. Etnologia amazônica. Domesticação vegetal. Etnodesenvolvimento. Abstract:More than an agricultural product, guaraná is the past, the present, and the future of the Sateré-Mawé people. It was among them that Jesuit missionaries entering the region between the Madeira and the Tapajós rivers in the second half of the seventeenth century, first found the plant. Since then, guaraná has been the ultimate Sateré-Mawé ethnic marker. Besides being fundamental in accounting for their origin and social organization, guaraná enabled the Sateré-Mawé to become the first indigenous people to appear in Brazilian history as having their very own product processed and systematically commercialized during colonial and imperial times. In the Brazilian Republic of the third millennium, it is one of the first products to be associated with the most advanced concepts and practices in the perspective of postmodern paradigms such as sustainability, organic certified agriculture, fair trade and eco-sustainable development. It holds a considerable power of aggregation within a traditionally segmented society and, at the same time, it has an axial role in collaborative movements both at international and national levels. For the Sateré-Mawé, their native Waraná is both memory and a promise of safe navigation over time. This article is about how this has been possible.

Os Impactos Socioambientais Da Certificação 'Slow Food' Na Terra Indígena Andirá-Marau

“…Deste modo a planta caracteriza-se como autêntica fortaleza, tanto de si própria quando para sua etnicidade. De tal modo, o guaraná tem sido instrumento garantido nos movimentos de resistência étnica e cultural, desde aqueles objetivando à regularização e proteção do seu território, aos de reestabelecimento de sua autonomia económica, perdida por efeito das inúmeras ascensões e declínios das cadeias produtivas de produtos extrativistas (Figueroa, 2017).…”

“…Ao associar a importância que a certificação Slow Food tem para o CPSM, pois a quarta secretária do PAIESM em conjunto com a referida certificadora, auxiliam na exportação do guaraná e economia do povo Sateré-Mawé como descreve Geraldo et al (2020) O projeto Waraná do povo Sateré-Mawé vem tutelando vários programas e bandeiras no decorrer de sua história, destacando a crescente produção nos moldes tradicionais para além do foco centrado no guaraná, dando ênfase também a economia local integrada ecologicamente, voltada para a recuperação, valorização e promoção de tradições artesanais que corem risco de desaparecer, como por exemplo a cerâmica, os trançados e a recomposição florestal de espécies amazônicas ameaçadas de extinção: pau-rosa, copaíba, andiroba, muirapuama, unha-de-gato e outras espécies produtoras de sementes importantes para o artesanato e produção de cosméticos (Figueroa, 2017).…”

Corpo, políticas e territorialidades: tecnologias e poder

“…Problemas gênito-urinários, especificamente como vasodilatador dos rins, também foram considerados. Foi associado a melhorias e à regulação do funcionamento cardiovascular, principalmente como auxiliar no tratamento de moléstias graves devido ao seu poder estimulante, exercendo ação tônica generalizada; especialmente na involução senil, combatendo congestões passivas (BORRÁS, 2003;DUNIAN, 2003;FIGUEROA, 2016;MATTA, 2003;REVILLA, 2002;VANDEUBERG, 1982).…”

Phytochemistry divergence among guarana genotypes as a function of agro‐industrial characters

“…Guarana powder is produced from dry seeds and used for production of extract and syrup. Guarana is mostly destined for the soft drink industry (Figueroa, 2016; Smith & Atroch, 2007). Brazil is the only commercial producer of guarana, with a yield of 3,726 metric tons yr −1 in 2018 (IBGE, 2019).…”

“…Ducke, Sapindaceae] is a woody creeping plant native to the Amazon, adapted to the low altitude and the warm, humid climate that is typical of the Amazon region. Guarana was domesticated and cultivated by the Sateré‐Mawé indigenous community, and it is part of the culture of this people (Figueroa, 2016). According to Ducke (1937, 1938), the center of phylogenetic origin is in the central region of the Brazilian Amazon and the lower Amazon, between the Tapajos and lower Madeira Rivers.…”