Estudantes de Medicina no enfrentamento da pandemia da Covid-19 no Brasil: reflexões éticas

Abstract

Introduction: In times of pandemics, the uncertainties and lack of evidence allow each country to conduct its response as it deems the most appropriate. This setting also facilitates the approval of public measures without adequate ethical analysis, due to its inherent urgency. With that said, the objective of this study is to promote a hermeneutical approach to the Brazilian Government proposals of including medical students in the fight against COVID-19 (Coronavirus Disease 2019) pandemic through an ethical perspective. Development: The governmental resolutions, published in the Brazilian Official Gazette, were discussed in the light of the Universal Declaration on Bioethics and Human Rights (UDBHR) and the Brazilian Medical Student Code of Ethics (CEEM), as the first one guides the debate through a pluralist, multi-, inter- and transdisciplinary bioethics, and the latter brings specified guidance to the studied population group. To better articulate the discussion, the main measures were subdivided into 3 sections: about the risk assessment; about the participation of 5th- and 6th-year students; about the early graduation. In the first one, the creation of participation alternatives has been proposed, including remote participation, without direct contact with patients, aiming to ensure the students’ integrity and to maximize the potential positive effects with minimum harm. After that, the predicted obligatory enrollment for undergraduate students attending the final years of medical school and the possibility of obtaining credit hours for the curricular internship in exchange for participation in the strategic action “O Brasil Conta Comigo” were assessed. Finally, the graduation anticipation and the need for a guarantee that the new graduates have the required knowledge and expertise for the medical profession were questioned. Conclusions: For an effective response against the disease, it’s necessary to collectively structure the adopted measures, benefiting from the capabilities that the students already have, while respecting their limitations, vulnerabilities, and freedoms. It should also be emphasized that any ethical decisions in the context of Medicine and of future generations of professionals can have immeasurable consequences for these individuals, their patients, and communities and thus, one must ensure that the benefits will be the best and greatest possible.

COVID-19: Impacto da pandemia sobre os estágios curriculares dos cursos da área da saúde

“…Garantir a qualidade e a formação integral dos estudantes, sem abreviar a duração do curso, é defender a saúde e salvar vida (Aben, 2020;Cofen, 2020). Segundo Freitas et al (2020) as atividades desenvolvidas pode não estar de acordo os objetivos propostos para o internato médico conforme as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) e do Projeto Pedagógico do Curso (PPC); validar a carga horária das atividades desenvolvidas na Ação Estratégica, como horas de estágio curricular obrigatório, pode ser prejudicial à qualidade do ensino médico, visto que os serviços de saúde não estão em condições normais de ensino-aprendizagem e que seus supervisores possam ser despreparados e sem capacitação para a preceptoria.…”

O estresse do estudante de Medicina durante a pandemia de COVID-19

“…Diversos fatores podem estar relacionados a esse medo de contaminação, mesmo com uso de EPI's e medidas preventivas, como incertezas e desconhecimento em torno do patógeno, urgência por respostas, informações dúbias ou falsas sobre o vírus, medidas de controle insuficientes, falta de mecanismos terapêuticos eficazes e crescimento exponencial no número de casos (Ornell Felipe et al, 2020;Freitas et al, 2021). A adoção de medidas não-farmacológicas para controlar a propagação da infecção, tendo como exemplo a higienização das mãos -por meio da lavagem com água e sabão ou antissepsia utilizando gel à base de álcool 70% -se faz necessária em decorrência da falta de medicamentos específicos e vacinas no momento da entrevista (de Souza Neto & de Freitas, 2020).…”

“…Apesar de essencial, sabe-se também que muitos locais enfrentam a falta de EPI's e boas condições de trabalho/estágio, o que se caracteriza como um grande fator gerador de medo e estresse nos profissionais de saúde e acadêmicos de medicina. Segundo levantamento de abril de 2020 da Associação Paulista de Medicina (APM), pelo menos metade dos médicos sofrem com falta de equipamentos de proteção individual (EPIs), como máscaras N95, em seus locais de trabalho, pondo em risco a própria segurança para o enfrentamento da pandemia (Freitas et al, 2021) Além disso, a realidade hospitalar atual não segue mais a rotina da graduação como antigamente com suspensão de consultas ambulatoriais nos setores de clínica médica, pediatria e saúde coletiva, prejudicando o processo de ensino-aprendizagem e causando ainda mais insegurança e preocupação nos estudantes, grande fator gerador de estresse (Freitas et al, 2021). De fato, a literatura e o resultado da pesquisa apontam que o medo de infecção é um importante agente estressor, com potencial para causar danos psicológicos significativos, incluindo depressão, irritabilidade, estado confusional e abuso de substâncias (Brooks et al, 2020).…”

“…Segundo Brooks et al (2020), os prejuízos psicopatológicos que podem ser gerados nesse período, principalmente nos profissionais de saúde, são sintomas de Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) com crises de pânico, Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), depressão, abuso de substâncias, estado confusional e irritabilidade. Ainda, pessoas que já possuem histórico de transtornos mentais têm maior predisposição de desenvolver danos psicológicos nesse tempo e após (Brooks et al, 2020;Santa & Cantilino, 2016) Segundo Freitas et al (2021), embora alguns protocolos médicos foram estabelecidos a maioria dos profissionais da saúde não é treinada para prestar assistência em saúde mental durante a pandemia, assim como não recebe atendimento especializado. Destacando-se altas taxas de ansiedade, estresse e transtornos mentais nessa população durante o enfrentamento de pandemias.…”

Repercussões da pandemia SARS-CoV-2 para estudantes de medicina do Ceará - Brasil

“…estudantes, como cancelamento de atividades ambulatoriais e esgotamento dos profissionais da saúde(Freitas et al, 2021). Em contrapartida, os alunos foram privados da convivência e consolidação das relações formais e informais, mesmo aqueles que relataram sair diariamente, por haver medidas governamentais de restrições para o controle da infecção, o que está relacionado ao desenvolvimento de danos psicológicos(Barros et al, 2021;Deng et al, 2021).Este estudo apresentou alguns pontos fortes, como ter sido o primeiro estudo a avaliar o impacto psicológico da pandemia do Covid-19 por meio de uma escala validada de impacto de estresse pós-traumático para estudantes de medicina em instituições de ensino superior públicas e privadas de Fortaleza-Ceará.Como limitações, trata-se de um estudo transversal com número limitado de alunos de uma capital do Brasil.…”