O rolê feminista: autonomia e política prefigurativa no campo feminista contemporâneo

Abstract

Resumo Este artigo parte do contexto dos movimentos sociais contemporâneos e tem como objeto empírico uma rede informal de ativistas jovens auto-referenciada como rolê feminista, cujas relações são norteadas por ideário associado à autonomia, ao faça você mesma e à horizontalidade. Tendo em vista as formas recentes de politização do gênero e da sexualidade, o artigo busca explorar os sentidos nativos atribuídos à autonomia. Assim, olhando para os discursos e práticas ativistas, discuto a sua materialização na prática da okupação e seus desdobramentos – como o escracho – no espaço público. Para tal, dialogo criticamente com a noção de “prefiguração”, apontando, à luz dos dados etnográficos, potencialidades e lacunas. Por fim, chamo atenção para a rentabilidade analítica de rolê frente aos limites da categoria movimento social no período pós-anos 2000.

Movimentos Feminista, Negro E Lgbti No Brasil: Sujeitos, Teias E Enquadramentos

“…Essas críticas estão relacionadas ao questionamento da noção de "movimentos sociais". Pesquisas conduzidas em meados dos anos 2010, com iniciativas compostas, majoritariamente, por jovens feministas e/ou LGBT, encontraram em campo a recusa ao uso da categoria movimento social em relação ao que faziam (LIMA, 2016;CARMO, 2018b;GOMES, 2018). Silva (2018) localiza, em uma rede de empreendedores negros, a passagem de categorias como movimento negro e movimentos negros para a de negros em movimento.…”

“…Desde a década anterior, com a diversificação dos movimentos em torno das categorias jovem e juventude, notava-se uma intensificação das polarizações geracionais, envolvendo repertórios e mesmo enquadramentos (FACCHINI; FRANÇA 2011). Ainda que processos de colaboração intergeracional pareçam se intensificar com o crescimento do reacionarismo e das ameaças à democracia (CARVALHO;CARRARA, 2015;DANILIAUSKAS, 2016;LIMA, 2016;GOMES, 2018;CARMO, 2018b;MACIEL, 2018;FACCHINI, 2018;FIGUEIREDO, 2018), temos pelo menos duas décadas de reconfiguração de repertórios e enquadramentos com base na crítica ao investimento prioritário em formatos, repertórios e enquadramentos que privilegiem a institucionalidade, o diálogo socioestatal e o essencialismo estratégico.…”

Feminismos en Movimiento, Feminismos en Protesta

“…En el Brasil, a pesar de ser muchas veces efímeros y no siempre visibles políticamente, cuando no deliberadamente reprimidos en el contexto neoliberal, colectivos y otras agrupaciones feministas menos estructuradas continuaron organizándose durante el auge de las ONG-por ejemplo, los primeros grupos de Riot Girrls y colectivos feministas de la escena anarco-punk (Marques 2013;Do Carmo 2018), al igual que otros grupos organizados dentro de movimientos de la juventud, como el hip-hop y el movimiento estudiantil dentro de las universidades, dentro de los sindicatos urbanos y rurales brasileños y La Vía Campesina, y dentro de diversos movimientos étnico-raciales (Barbosa, 2013;Godinho, 1998;Magrini y Lago, 2013;Silva, 2008).…”

Processos de identificação lesbiana no espaço universitário: pertencimentos, acolhimentos, reelaboração, disputas e politizações

“…A história narrada por Monique, assim como a de Ana, é marcada pela massificação do acesso à internet e à ocupação do espaço virtual que se fez possível a partir das transformações no campo político, como descrevem Carmo (2019) Ressalto que este evento paradigmático marcou profundamente a experiência lesbiana de Monique, que, embora tenha crescido em uma família tolerante em relação à diversidade sexual, cuja religião não oferecia obstáculo à sua liberdade e que mantinha contato com outros indivíduos LGBTQIA+, desenvolveu profunda sensação de desvio e anormalidade. Somente…”

“…Entretanto, Maya lamenta a dificuldade em manter ativas essas organizações, tendo em vista, principalmente, a ausência de jovens disponíveis para dar continuidade às ações dos coletivos quando as veteranas precisam se afastar, seja por se desligarem da universidade ou por já não disporem de tanto tempo, comentário que aparece, também, nos relatos de Ana e Monique. Ainda no que se refere às organizações estudantis, tece críticas aos grupos partidários, tendo em vista a preferência por métodos tradicionais -paralisações, atuação no próprio partido político -que ela caracteriza como "engessamento", em contraposição à ocupação do espaço público e à militância cotidiana, o que faz recordar os debates de Carla Gomes e Bila Sorj (2014) acerca dos corpos-bandeira e de Íris do Carmo (2019) sobre o rolê feminista e as noções de autonomia e prefiguração.…”