Para uma história dos concursos de beleza trans: a criação de memórias e tradição para um certame voltado para travestis e mulheres transexuais*

Abstract

Resumo Este artigo procura narrar a história contada sobre três edições do concurso de beleza Miss Boneca Pop (1974-76), certame para travestis realizado na cidade do Rio de Janeiro nos anos de 1974, 1975 e 1976. No ano de 2012, tais concursos foram rememorados com o objetivo de dar certa legitimidade e tradição ao Miss T Brasil, concurso de beleza para travestis e mulheres transexuais que então se iniciava. Fazendo uso de matérias jornalísticas da época, fotos pessoais e narrativa de uma candidata de duas dessas edições, e bibliografia pertinente aos temas, procuro aqui fazer a arqueologia do Miss Boneca Pop em sua relação com o Miss T Brasil (2012-15), em especial na tradição que este criou para si com base naquele.

Transcestrality, Travestiland, Traviarchy: the stage and gender dissidences in Brazil

“…Acting in theatre, film and television, she became a reference for audiences across different generations -from those who saw her in the revue theatre in Les Girls, back in 1964, to those who watched Divinas Divas (2016), a film by Leandra Leal (Figure 7), as well as her remarkable television roles, such as Ninete, in the soap opera Tieta (1989). Although she wasn't the first travesti to appear on TV, a position that belongs to Claudia Celeste (Silva Junior, 2017), Rogéria was certainly the most popular and had the longest career, spanning from the 1980s to 2017. Her popularity ended up earning her the nickname that would accompany Accepted into mainstream culture, the Brazilian family's travesti was able to offer, through her charismatic public figure and her constant presence in soap operas and television programmes, references to the general public, consumers of mass culture, on issues related to gender identity -in other words, she promoted socio-cultural mediation.…”

“…On the other hand, through a non-systematic search, it was possible to gather a number of significant works resulting from academic research, such as those by Delgado (2013), Leal (2021), Leal and Denny (2018), Leal and Rosa (2020), Lion (2016Lion ( , 2015, Rodrigues (2016), Silva (2011), Silva Junior (2017, Vergueiro (2019), among others, as well as relevant nonacademic references, such as Nunes (2015), Paschoal (2016) and Camarero and Oliveira (2021), whose review and analysis formed the methodological basis of this study.…”

Transcestralidade, Travestilândia, Traviarcado: o palco e as dissidências de gênero no Brasil

“…E eu maravilhosa, de short e botas longas, como Jane Fonda em 'Klute'" 6 (Camarero;Oliveira, 2021, n. p.). O anterior fazer travesti, restrito aos palcos, cedia es- Na televisão, embora não tenha sido a primeira travesti em cena, posto que coube a Claudia Celeste (Silva Junior, 2017), Rogéria certamente foi a mais popular e a de carreira mais longeva, estendendo-se dos anos 1980 a 2017. A popularidade acabou por render-lhe o apelido que a acompanharia Emerson Silva Meneses -Transcestralidade, Travestilândia, Traviarcado: o palco e as dissidências de gênero no Brasil Rev.…”

Pessoas Transgênero Brasileiras e o Contexto de Trabalho: Revisão da Literatura Nacional

“…A busca de outras possibilidades de inserção profissional, seja através do mundo acadêmico ou de postos formais de trabalho, é apontada por Pelúcio (2005) como uma demanda crescente da população trans. Outras formas de inserção buscadas por essa população como alternativas à prostituição aparecem em estudos que narram trajetos de pessoas trans à luz de suas áreas de estudo e/ou trabalho, como concursos de beleza (Silva, 2017), assistência social (Dias, 2018), educação e pedagogia (Franco & Cicillini, 2015), militância em prol da própria população trans (Carrijo et al, 2019) e candidaturas políticas (Santos, 2016).…”

“…A primeira categoria identificada refere-se à construção de sentidos e identidades através do trabalho, com estudos que discutem os impactos e a importância das diferentes formas de inserção profissional na construção dos trajetos e identidades das pessoas trans (Bortolozzi, 2015;Davi & Toledo-Bruns, 2015, 2017Nascimento, 2014;Nogueira & León, 2012;Patrício, 2012;Silva & Ornat, 2018;Soliva, 2018Soliva, , 2019Teixeira, 2008). Esse conjunto de estudos reconhece que a esfera do trabalho nas vidas de pessoas trans geralmente é demarcada pela prostituição, fruto de um processo de exclusão sistêmica que limita as oportunidades em outros espaços laborais.…”