Uma característica importante da agricultura familiar é sua capacidade de diversificação de espécies alimentícias, compondo a agrobiodiversidade e auxiliando na segurança alimentar e nutricional. Baseado nesse contexto, este estudo buscou registrar a diversidade de espécies alimentícias, existentes na Zona de Amortecimento do Parque Nacional das Sete Cidades, na Comunidade Rural de Cachoeira, Piauí, Brasil, bem como, entender a dinâmica sobre quais partes são utilizadas e as formas de preparo e consumo, além de investigar se existe consenso entre os entrevistados sobre as espécies citadas e se existe diferença nas citações entre homens e mulheres, utilizando o Valor Local (VL) como parâmetro. Foram visitadas todas as residências da comunidade e entrevistados todos os chefes de família que se dispuseram a participar da pesquisa e estavam no dia da visita. Os dados foram obtidos através de entrevistas semiestruturadas, complementados por conversas informais. Os nomes vernaculares das espécies citadas foram registrados de acordo com a citação dos informantes e para identificação foram realizados registros fotográficos e coletas, quando possível. Os dados foram organizados em planilhas no Microsoft Excel(R) e analisados sob a perspectiva da quantificação das famílias botânicas e espécies alimentícias citadas pelos moradores e sob o aspecto da origem destas espécies, classificando-as em nativas ou exóticas, bem como seus hábitos. Também foram analisadas quais as partes vegetais utilizadas pela comunidade, as formas de consumo e preparo. Foi calculado o Fator de Consenso do Informante (FCI), como forma de verificar o grau de consenso das informações e o Valor Local (VL), buscando encontrar diferenças no conhecimento entre homens e mulheres. Os resultados obtidos pelo cálculo do VL foram testados através do Teste de Mann-Whitney, para verificar diferenças significativas entre os gêneros. Foram entrevistados no total 13 homens (48,14%) e 14 mulheres (51,86%). Ao todo nas entrevistas, foram mencionadas 295 citações de usos alimentícios, distribuídas em 58 espécies, pertencentes a 26 famílias botânicas, sendo 26 espécies nativas (53,06%) e 23 exóticas (46,94%) e nove espécies que não foram identificadas. Destacaram-se pelo número de espécies, as Famílias Anacardiaceae e Fabaceae, ambas com cinco espécies (10,20% cada) e Arecaceae com quatro espécies (8,16%). Dentre as formas de vida, destacam-se as com hábito de árvore, com 21 espécies (42,86%). Analisando as partes vegetais citadas pela comunidade, destacam-se os frutos com 255 citações (86,44%). Dentre as formas de consumo, destaca-se o consumo in natura, com 210 citações (71,19%). Em relação ao VL, podemos selecionar as espécies mais importantes para os homens e mulheres foram C. cuneatum Witm. (pequi), C. velutina (Cambess.) O. Berg. (guabiraba) e A. humile A. St.-Hil. (cajuí). O FCI foi de 0,81, indicando que existe um considerável grau de consenso entre os moradores da comunidade. A partir do teste estatístico, verificou-seque não existe diferenças significativas de conhecimento entre os gêneros.