As Micro e Pequenas Empresas (MPEs) têm papel relevante na economia brasileira. Contribuíram com a formação de 27% do Produto Interno Bruto em 2011 (SEBRAE, 2014) e geraram 52% dos empregos formais no país em 2012 . Apesar disso, 24,4% desses empreendimentos desaparecem nos primeiros dois anos de vida . Essas empresas são os principais clientes dos contadores e escritórios contábeis que prestam, geralmente, serviços de escrita contábil, escrita fiscal, departamento pessoal e de abertura, alterações e encerramento de empresas. A consultoria contábil, além de oferecer apoio aos Proprietários Administradores de Pequenos Negócios (PAPNs) para enfrentar os desafios comuns às MPEs, representa uma área a ser explorada pelos contadores. A partir desse contexto, este trabalho procurou caracterizar a consultoria contábil a ser oferecida pelos profissionais de contabilidade aos PAPNs. Para isso, 23 entrevistas semiestruturadas foram realizadas com 8 PAPNs e 15 Especialistas, além de um relato de memória, gerando mais de 15 horas de áudio e 146 páginas de transcrições. A estratégia de análise das entrevistas foi a Grounded Theory, utilizando-se a técnica de codificação proposta por Charmaz (2006) e com o auxílio do software QSR-Nvivo, versão 10. De acordo com os dados analisados na pesquisa e com a literatura consultada, a natureza do serviço da consultoria contábil pode ser divida em três categorias: ferramentas, treinamento e aconselhamento. As ferramentas aconselhadas pelo consultor incluem relatórios e técnicas e rotinas de controles essenciais para auxiliar a gestão e a tomada de decisão do PAPN. O treinamento é direcionado ao entendimento e ao 'como fazer' algo, enquanto os aconselhamentos têm como principal foco ajudar o PAPN a sair do operacional para pensar no negócio, sua estratégia e administração e a desenvolver sua visão empreendedora. Para isso, é imprescindível que o contador busque preparo em múltiplas áreas, especialmente em administração. A relação de confiança entre o contador e o PAPN é essencial na consultoria contábil, bem como a adoção, pelo contador, de linguagem simples e clara. A consultoria coletiva é sugerida como um possível mecanismo de viabilizar economicamente a prestação desse serviço. Não se propõe aqui a substituição dos serviços oferecidos hoje pelos escritórios contábeis às MPEs, os quais são vistos pelos PAPNs como a principal função do contador, mas sim o seu complemento com o intuito de ajudar esse empresariado a superar as dificuldades específicas das empresas de menor porte. Afinal, como afirmam Marriott e Marriott (2000), os serviços tradicionais podem representar uma janela de oportunidade para a consultoria contábil.