Psicologia E Cisnormatividade

Abstract

Resumo O objetivo neste artigo é aproximar a discussão sobre as questões de gênero que constituem o campo de saber da psicologia e as críticas dos saberes transfeministas às práticas e discursos normativos e patologizantes sobre as vivências de pessoas trans. Utiliza-se para tal análise as noções de cisgeneridade, como forma de nomear um lugar a partir do qual as identidades trans são enunciadas, e da cisnormatividade como dispositivo que regula e determina sentidos de coerência para os processos de constituição de gênero. Esses conceitos funcionam como operadores analíticos e políticos que fazem contraponto à naturalização da cisgeneridade como pressuposto fundante das verdades do gênero e dos modos de subjetivação. Problematiza-se, portanto, como a psicologia participa dos arranjos cisnormativos relacionados aos modos de reconhecimento das pessoas trans e às possibilidades de enunciação sobre suas vivências.

Tornando-se homem: processos de agenciamento de corporalidades de homens trans - contribuições para o campo emergente das transmasculinidades

“…Destaca-se a ideia de um alinhamento e um efeito de coerência naturalizados, que estabiliza e fixa rigidamente as categorias de homem e mulher pela cristalização da diferença sexual e a força de discursos específicos nos processos de conformação e legitimação dos gêneros, com a deslegitimação e marginalização de outras existências possíveis. Portanto, a cisgeneridade refere-se à naturalização dos modos de organização e regulação do gênero que, imerso nas relações de poderes e saberes que subjugam certas identidades e narrativas em detrimento de outras, é fundamentada pela compulsoriedade (Fuchs, Hining, & Toneli, 2021).…”

“…Tal apontamento evidencia que comportamentos e hábitos de pessoas cisgêneras relacionadas ao gênero são lidas como habitual, normal e comum, enquanto as mesmas preocupações vivenciadas por pessoas trans são concebidas como esforços exacerbados a fim de reiterar noções de gênero, especialmente no período pós-transição. Portanto, a ideia de discutir a respeito da "cisgeneridade" busca refletir sobre um lugar de enunciação habitual que cotidianamente inscreve as vivências trans e as caracteriza como patológicas, falsas, confusas, imorais, irreais e ilegítimas, instituídas, propagadas e consolidadas com o amparo da psicologia (Fuchs et al, 2021).…”