A presente pesquisa visa discorrer sobre como a pandemia da COVID-19 e as políticas desenvolvidas no governo Bolsonaro para os povos indígenas, de 2020 a 2022, foram enfrentadas por esses coletivos, com destaque para as práticas empreendidas pelos povos indígenas no Ceará. Para tanto, realizamos pesquisa em processos judiciais e administrativos, na legislação aprovada e que tramita no Congresso Nacional, além de consulta a notícias de jornais de ampla circulação. Tais dados foram complementados com entrevistas realizadas com lideranças indígenas do Ceará e com informações divulgadas pelas organizações indígenas de âmbito nacional e estadual. Mesmo no contexto da pandemia, o governo federal continuou pondo em marcha a política como “uma forma de guerra” (MBEMBE, 2016) contra os povos indígenas, havendo um conjunto de ações do Executivo federal em ampla aliança com o agronegócio, o ultraneoliberalismo, e com pautas ideológicas que consideram os indígenas atrasados e incapazes. Toda essa concertação de interesses configurou um projeto articulado de poder e de país, em que não havia espaço para os povos, seus modos de vida e para os seus apoiadores. Apesar disso, na situação limite entre a vida e o adoecimento e a morte, os povos indígenas promoveram ações coletivas que, inclusive, passaram a tensionar os poderes instituídos, transformando o luto em luta.