Este artigo tem como objetivo refletir sobre como se organizam sentidos, valores e relações em torno do boné do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O adereço vermelho – que tem encontrado adeptos fora do espaço da militância –, pode ser entendido muito além de um acessório que demarca uma posição política ou a integração ao movimento. Na relação entre lideranças e militantes, o boné pode ser utilizado como ferramenta que aponta as posições que ocupam na estrutura do movimento. As análises contidas neste artigo são construídas em torno da descrição de um episódio, que envolve a transferência de uma posição de liderança de um militante para outro, através de uma “passagem de boné” – que neste caso não se trata só de uma figura de linguagem para simbolizar a mudança, mas também do adereço propriamente dito cedido como herança. O episódio exemplifica a mobilização de um conjunto de categorias nativas principalmente expressas pela “mística”, pelo “compromisso”, pela “luta” e pela “confiança”. As considerações apresentadas ao longo texto foram estruturadas a partir de pesquisa empírica realizada por meio de observação participante e entrevistas com militantes e lideranças do MST.