O discurso museológico e suas tipologias em um museu de história natural

Abstract

Resumo:Cresce cada vez mais o interesse de se investigar como ocorre o ensino nos museus e sua contribuição para a divulgação científica devido à sua grande popularidade e seu papel social, cultural e científico. Os museus apresentam um discurso próprio, denominado museológico, que é constituído pelos diversos elementos presentes em suas exposições, com os quais os visitantes podem interagir de alguma maneira. Ao se analisar o discurso museológico presente em uma exposição paleontológica, concluiu-se que esta é basicamente contemplativa e observou-se uma predominância do discurso autoritário nos textos expostos, tal qual como acontece no discurso pedagógico. Refletir sobre as exposições museológicas e a quem se destinam, fazendo-se adequações ao seu público, é uma maneira de favorecer um aprendizado crítico em que uso de objetos interativos e textos reflexivos seriam facilitadores desse processo de construção de significados pelo próprio visitante.Palavras-chave: Museu. Exposição. Divulgação científica. Educação não formal. Discurso.Abstract: Due to museums popularity and their social, cultural, and scientific roles, there has been a growing interest in investigating how teaching occurs at museums and their contributions to the public awareness of science. Museums present an innate type of discourse named museological, consisting of various elements found on explanations, which visitors can interact with. This study analyzes the museological discourse of a paleontological exhibition, concluding that it is essentially contemplative, with a predominance of authoritarian discourse on the exhibited texts, as seen in the pedagogical discourse. Reflecting on museum exhibitions and whom they are aimed at, with adjustments being made according to the audiences, what is important is the manner in which critical learning benefits and the importance of interactive objects and reflexive texts as facilitators of the process of the construction of meanings by the visitors themselves.

Interações Do Público Escolar Em Dois Diferentes Tipos De Museus De Ciências

“…Os espaços destinados a essas coleções, em seus primórdios, estiveram associados ao objetivo de expor os recursos naturais e de interesse econômico do país e dar à corte e à elite acesso a uma fonte de cultura (Sily, 2013). No século XVIII, a organização de acervos esteve orientada pela perspectiva iluminista enciclopedista (Valente, 2009) e, no século XIX, por meio da participação de naturalistas estrangeiros e brasileiros foram organizados museus de História Natural pela transformação de espaços, originalmente destinados ao armazenamento de objetos, em lugares de preservação, salvaguarda de indicadores de memória, pesquisa, exposição de acervos, comunicação, entretenimento, cultura e educação (Pereira & Valle, 2017). Como exemplos das primeiras instituições brasileiras é possível citar o Museu Real (1818) (Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que sofreu um incêndio em 2018), o qual abrigava as práticas de investigação dos pesquisadores presentes no território nacional (Lopes, 2009).…”

“…Os museus de primeira geração tinham como meta a preservação das coleções e o desenvolvimento do conhecimento científico. A comunicação se aproximava do modelo da escola tradicional, caracterizada pela passividade do visitante diante da forma autoritária como o conhecimento era exposto (Pereira & Valle, 2017). Já Martins (2011) considera os museus como instituições que sempre perseguiram fins educacionais, por isso, a autora reconstrói os elos entre as suas origens, o estudo de coleções e a forma como o público foi sendo incluído nesses espaços.…”

“…Com relação especificamente ao público dos Museus de Ciências e Tecnologia é importante mencionar a variação dessas instituições quanto às suas dimensões, infraestrutura, configurações, acervos, exposições, temas, e popularidade, desde aquelas que atraem um amplo espectro de público, pela diversidade de seus objetos e programas, até aquelas mais específicas e, portanto, dirigidas a interesses particulares (Marandino, 2005;Valente, 2009). Entre as primeiras, costumam estar museus centrados no visitante (Valente, 2009) (Valente, 2009), a exposição costuma ser organizada para visitantes contemplativos, cuja ação esperada é a de observação do acervo (Pereira & Valle, 2017), pois as peças não podem ser manuseadas, mesmo quando não são os objetos originais e sim réplicas.…”

“…Entre as diversas abordagens possíveis no estudo de museus e de sua dimensão educativa, são numerosos os trabalhos que têm se dedicado aos estudos de público (Hein, 1998;Cazelli et al, 1999;Falcão, 1999;Marandino, 2002Marandino, , 2005Massarani, 2002Massarani, , 2008Almeida & Lopes, 2003;Coutinho-Silva, 2005;Sápiras, 2007;Marandino & Ianelli, 2007;Marandino et al, 2009;Martins, 2011;Fors, 2013;Jardim, 2013;Schiele, 2016;Çil et al, 2016;Dawborn-Gundlach et al, 2017;Pereira & Valle, 2017) e por essa razão alguns deles são aqui comentados em ordem cronológica. Hein (1998) buscou integrar conhecimentos produzidos em estudos anteriores (Schiele, 2016), considerando os museus como locais de contato do público com o meio científico e que, por isso, precisam de estratégias não só para atrair e estimular o visitante, mas também para avaliar como ele está respondendo a elas, a fim de readequá-las.…”

“…Devido a essa organização, o visitante que lesse o texto informativo poderia perder o elemento surpresa, a chance da descoberta ao encontrar ali a resposta que ele poderia buscar interagindo com o aparelho e refletindo sobre a experiência (Figura 1). Os recursos disponíveis permitem enquadrar essa instituição nos museus de terceira geração (Cazelli et al, 1999), orientado por pedagogias construtivistas (Martins, 2011), mas também conservava objetos e características de exposições tradicionais, oferecendo explicações prontas, empregando um discurso museológico que reproduz um significado único para os objetos em exposição (Pereira & Valle, 2017 De acordo com o sítio na Internet do Museu interativo, consultado em 30 de maio de 2015, ele completava quase 50 anos de existência, tendo como missão " [...] gerar, preservar e difundir o conhecimento por meio de seus acervos e exposições, contribuindo para o desenvolvimento da ciência, da educação e da cultura". Quanto à atuação institucional para a difusão do conhecimento, era explicitado que esta se dava por meio de suas exposições "[que são] elaboradas para despertar a curiosidade e o gosto pelas ciências [...] e valorizam a participação do visitante que, ao se envolver em experiências lúdicas e inusitadas, torna-se protagonista de seu próprio aprendizado".…”