Uma reflexão sobre a psicose na teoria freudiana

Abstract

O objetivo deste artigo é trilhar o movimento do pensamento freudiano em relação à psicose. A princípio, o tema da psicose – em especial a paranóia – é desenvolvido por Freud no interior de sua concepção sobre as neuroses, portanto, no terreno da repressão (Verdrängung) para, posteriormente, encontrar sua especificidade conceitual na rejeição (Verwerfund) e na recusa (Verleugnung), conceitos estes tributários das especulações freudianas sobre o narcisismo e a elaboração da, assim chamada, segunda tópica. É também discutida a questão da dificuldade da clínica freudiana para as psicoses pela impossibilidade da transferência.

Kafka e a psicose : aproximações entre psicanálise e literatura

“…Até aqui, pudemos observar como Freud trata a psicose como uma patologia de defesa, assim como as neuroses de transferência, sob o enfoque da libido do eu e da libido objetal. Nesta etapa de seu pensamento, Freud considera o recalque como o mecanismo de base dos fenômenos psicóticos (Freire, 1998).…”

“…Outro fator considerado é a possibilidade de clivagem do eu (Freud, 1924b(Freud, [1923/1977). Esta concepção ilustra uma noção central na segunda tópica freudiana que sustenta o permanente jogo de forças entre isso, eu e supereu, bem como a ideia de que o eu não é o senhor em sua própria casa (Freire, 1998).…”

“…Entretanto, em outras passagens de sua obra, Freud emprega o termo Verwerfung para designar a mesma noção de recusa da realidade (Freire, 1998). Portanto, é necessário discutir estes três importantes mecanismos: a Verdrängung, Verleugnung e Verwerfung.…”

“…Acerca da introdução da noção de rejeição (Verleugnung) como o mecanismo específico da psicose, Freire (1998, p. 104) (Freud, [1938. Esta solução é alcançada mediante uma divisão (splitting) do ego, questão que vai ao encontro do complexo de castração, situação onde a criança lida com uma intensa frustração e angústia (Freud, [1938Freire, 1998). A questão da divisão do eu, conceitualmente muito próxima da lógica fetichista, foi retomada por Freud em Esboço de psicanálise (1940[1938]) (Freire, 1998).…”