O termo enunciado concreto estabelece tanto uma ruptura quanto um posicionamento epistemológico do Círculo de Bakhtin acerca da produção de conhecimento em Linguística e Literatura. Desta feita, os estudos aqui realizados objetivam tratar reflexivo-teoricamente acerca do conceito de enunciado concreto, pensando-o a partir da mobilização de excertos de obras da denominada literatura das secas, tais quais O Quinze, de Rachel de Queiroz (2012 [1930]) e Luzia-Homem (1977 [1903]), de Domingos Olympio Braga Cavalcanti (1977 [1903]). Assim, em termos metodológicos, procede-se com o esboço de uma leitura enunciativo-discursiva baseada nos pressupostos teóricos bakhtinianos. A pesquisa é de cunho bibliográfico, realizada através do levantamento de referências já publicadas acerca do tema, de forma que os estudos se basearam em alguns autores como Volóchinov (2018 [1929]; 2019); Bakhtin (2011 [1979]; 2015 [1975]); Medviédev (2012 [1928]); Santos Filho e Santos (2021); Albuquerque Jr. (2011; 2017; 2019), dentre outro(a)s. Os resultados apontam para a compreensão de que enunciados concretos participam da vida de significações filiando-se a elos discursivos pregressos e posteriores, que corroboram ou refratam determinado conteúdo temático forjado no processo enunciativo, a exemplo dos excertos das obras literárias mobilizados, que participam da construção da noção hegemônica de sertão/Nordeste/semiárido. Ademais, os estudos bakhtinianos compreenderam que o enunciado concreto possui especificidades e participam da cadeia da vida de significações, construindo a realidade inteligível nas diferentes esferas da atividade humana e diferentes gêneros discursivos.