Feminino e maternidade: mais ainda, a partir da prematuridade

Abstract

Resumo A partir da escuta psicanalítica oferecida a mães de bebês prematuros em alas de neonatologia de um hospital maternidade, buscamos articular neste artigo as relações entre feminino e maternidade, através da apresentação de trechos de um caso atendido. Para isso, debatemos as questões relativas à construção da maternidade como algo inerente à feminilidade, perspectiva concebida na modernidade e que se estende para os dias atuais, acompanhada de críticas e atualizações. Consideramos também a noção freudiana de feminilidade enquanto saída edípica das mulheres, a qual não se iguala às leituras sociais, pois inclui o desejo. Essa noção ganhou maiores contornos com o ensino de Lacan, o qual nos ajudou a trabalhar maternidade e feminino a partir do desejo e de posições de gozo fálicas e não-todas fálicas que se colocam de maneira sempre singular para cada mulher.

A Experiência De Maternagem Em Mães De Bebês Pré-Termo Internados Em Unidade Neonatal

“…Questões ligadas à maternidade durante a internação do bebê são exploradas em Corrêa (2022). A partir dos estudos freudianos que discutem o desejo de conceber um bebê enquanto uma saída frente a castração no desenvolvimento sexual da menina, para esta autora a prematuridade envolve uma atualização da castração e coloca impasses na experiência de maternagem.…”

“…A renúncia ao pênis se dá em meio a uma tentativa de compensação, na qual a menina passa, ao longo de uma equação simbólica, do pênis ao bebê e toma o pai como objeto amoroso, culminando no complexo de Édipo. Corrêa (2022) se dedica ao estudo de caso de uma mãe que, mesmo sendo médica, trazia como recorrente em sua fala a falta de domínio e de explicações sobre o quadro clínico da criança.…”

“…Neste movimento de buscar controlar, via saber médico próprio, os sucessos e fracassos em torno da maternidade da filha, o saber médico encontrava limites; logo, como médica, ela não pôde dar respostas aos enigmas da criança, mas sim como mãe através de seu saber inconsciente. A posição de gozo fálico oferece uma satisfação através da mitigação da angústia de castração, que tem função importante no estabelecimento do laço entre mãe e bebê (Corrêa, 2022).…”