Resumo: Este artigo procura defender uma abordagem pragmatista de democracia deliberativa. Inicialmente, argumenta-se que as cinco principais contribuições que os deliberacionistas atribuem a Habermas já se encontravam desenvolvidas em expoentes do pragmatismo clássico. Trata-se: (1) do desenvolvimento de uma teoria democrática baseada em uma concepção ampla de política, na participação e na tentativa de ultrapassar as perspectivas ditas realistas; (2) da construção de uma teoria democrática não agregativa, centrada em intercâmbios comunicativos; (3) da conexão entre discurso e razão, que abre caminho para a consideração simultânea de particular e universal; (4) da proposição de uma ética do discurso que capaz de lidar com a questão do pluralismo; e (5) da estruturação de uma abordagem sistêmica fundada em públicos descentrados. Na sequência, o artigo desenvolve contribuições específicas do pragmatismo, argumentando que ele pode oferecer um viés discursivo radical aos deliberacionistas.Palavras-chave: democracia deliberativa, pragmatismo, Habermas, Dewey.A dívida da democracia deliberativa com o pragmatismo ganhou atenção recentemente (Misak, 2004;Green, 2004;Talisse, 2005;Bohman, 2004;Kadlec, 2007;Browne, 2008;Pogrebinschi, 2005;Silva, 2009;Mendonça, 2013a). Apesar disso, há pontos dessa relação que merecem um aprofundamento conceitual. Um deles foi expresso em uma questão proposta por John Dryzek em texto publicado pelo Journal of Speculative Philosophy:Dado que a teoria e a prática deliberativa parecem se desenvolver sem muita ajuda do pragmatismo, em que exatamente pode o pragmatismo contribuir agora que não possa ser encontrado em outro lugar? (Dryzek, 2004, p. 78).Se pragmatismo e democracia deliberativa seguiram rotas paralelas, por que elas deveriam ser articuladas?Este artigo argumenta que a democracia deliberativa estaria em melhor situação se estivesse ancorada no pragmatismo e não na teoria habermasiana. Inicialmente, examinarei as principais contribuições à teoria democrática usualmente atribuídas a Habermas, defendendo que elas podem ser encontradas no pragmatismo clás-sico. Depois deste percurso, argumento que o pragmatismo pode oferecer uma