A Transmissão Geracional da Violência na Relação Conjugal

Abstract

RESUMO Trata-se de um estudo de caso, cujo objetivo foi investigar a transmissão geracional da violência e papéis estereotipados de gênero a partir da Teoria Familiar Sistêmica e da Teoria de Gênero, com um casal vítima de violência conjugal. Os instrumentos foram Entrevista do Ciclo de Vida Familiar e Genograma. As informações foram analisadas utilizando a epistemologia construtivo-interpretativa. As análises apontaram que os cônjuges vivenciaram padrões relacionais violentos em suas famílias de origem, com papéis estereotipados de homem e mulher, baseados no modelo patriarcal, e que as vivências de cada cônjuge em suas famílias de origem, influenciou o casal, em seu relacionamento, tanto na estereotipia de cada papel quanto na forma de lidar com as negociações e os conflitos conjugais.

Exposição à violência conjugal na infância e perpetuação transgeracional da violência

“…Em muitos estudos a amostra constitui-se de casais que responderam sobre a ocorrência/ exposição ou não de violência conjugal (Arbel et al, 2016;Colossi et al, 2015;Fritz et al, 2012;Halford et al, 2010;Hou et al, 2016;Madalena et al, 2018;Sant´Anna & Penso, 2017;Witting & Busby, 2018). Cabe ressaltar que dos artigos que utilizaram como participantes pessoas em relacionamento afetivo, apenas um estudo considerou em sua amostra os casais, bem como os filhos (Arbel et al, 2016).…”

“…Constatou-se que a maior parte dos estudos considerou seu embasamento em três tipos de violência conjugal: agressão física, psicológica e sexual (Edwards et al, 2014;Elmquist et al, 2016;Franklin & Menaker, 2014;Hou et al, 2016;Jaoko, 2010;Kerley et al, 2010;Ludermir et al, 2017;Madalena et al, 2018;Mancera et al, 2018;Rivas et al, 2018;Teva et al, 2020;Wareham et al, 2009). Treze estudos consideraram os tipos violência física e psicológica (Alexander, 2009;Arbel et al, 2016;Copp et al, 2019;Haj-Yahia et al, 2019;Halford et al, 2010;Kerley et al, 2010;Oliveros & Coleman, 2019;Padovani & Williams, 2011;Sant´Anna & Penso, 2017;Sutton et al, 2014;Witting & Busby, 2018).…”

“…Alguns dos artigos que utilizaram amostra de mulheres, mostraram que a violência nas relações conjugais é mais frequente em vítimas que testemunharam a mãe sofrendo violência durante a infância, tratando-se de um padrão de continuidade (Alexander, 2009;Franklin & Menaker, 2014;Kim et al, 2014;Ludermir et al, 2017;Rivas et al, 2018;Sant´Anna & Penso, 2017). O estudo de Franklin e Menaker Em se tratando dos estudos que consideraram em sua amostra homens (Edwards et al, 2014;Eriksson & Mazerolle, 2015;Mancera et al, 2018;Padovani & Williams, 2011;Sant´Anna & Penso, 2017), os artigos indicam que as memórias de infância, a educação familiar, a observação das relações entre os pais e testemunhar a violência na infância aumentam o risco de perpetração de violência conjugal na vida adulta. Nesse sentido, vale ressaltar que dois estudos (Madalena et al, 2018;Rada, 2014) mostraram que as experiências negativas na família de origem tendem a impactar mais os homens, do que as mulheres, para se tornarem agressores.…”

“…Em relação ao delineamento, dos 29 estudos analisados, verificou-se que a maioria privilegiou o método quantitativo. Apenas dois artigos utilizaram-se de método qualitativo(Mancera et al, 2018;Sant´Anna & Penso, 2017). Com relação à coleta de informações, em sua maioria, os estudos coletaram dados em apenas um mo-mento específico do tempo, o que caracteriza o delineamento transversal.…”

Seria o Ciúme Mediador entre as Experiências na Família de Origem e a Violência Física na Conjugalidade?

“…Todavia, ainda que o abuso/ negligência e a disfuncionalidade familiar se façam presentes nas experiências de família de origem, ao conhecer os aspectos transgeracionais é possível fazer escolhas mais conscientes do que se deseja. Nesse sentido, experiências passadas, ainda que, com frequência, repitam-se, também podem ser modificadas quando o sujeito reconhece suas conexões familiares (Colossi & Falcke, 2019;Sant'Anna & Penso, 2018).…”